segunda-feira, 30 de junho de 2025
Não se apaixone por um homem do mar
sexta-feira, 27 de junho de 2025
Alô, Ubatuba onde nasci!
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Mulheres de luta!
Quando vai começar o novo capítulo
em que as mulheres tenham igualdades
nos trabalhos, nos salários e nas oportunidades?
Uma nova história vai começar na consciência das pessoas
para repudiarem a
ideologia dos machistas
e para se somarem à resistência antifascista!
sabe qual lado está no jogo da existência,
toma partido a favor da vida e tem a consciência
de que serão as novas Evas
que vencerão as forças das trevas!
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Bote à deriva
Antigamente não fazia sentido se dizer dono de tudo
das terras, árvores, rios feitos por Deus, God, Dios.
Antigamente não tinha essa história
de dividir a terra em lotes,
as pessoas em classes, o tesouro em lingotes
o trabalho era em
comunidade,
não fazia sentido ser egoísta porque a vida era brevidade
e ainda é... e ainda
é...
ainda somos marinheiros à deriva na maré...
e fazer uma corrente de gente consciente
de que a vida deve ser respeitada
nas cidades, na mata, no mar, para o mudo se iluminar,
pois é o amor que nos levará além,
rumo ao novo tempo de ninguém soltar a mão de ninguém!
A gente sabia tudo
para perceber, antes que fosse tarde, os sinais de tempestade.
o jeito certo de conversar com Deus, de tocar rabeca e dançar,
A gente sabia tudo o que a vida tinha para ensinar,
a gente era alfabetizado em sabedoria popular!
domingo, 22 de junho de 2025
Onde você pisa, nasce uma flor.
Meu bem, tô cuidando do jardim,
árvores atiram flores em mim,
rosas se abrem na roseira,
rádio toca música brasileira.
Os pássaros estão a cantar
Que a primavera chegará
Por isso comprei, meu bem,
Uns panos cheios de cores também,
Para você ornar
Com a primavera que logo vai chegar.
amor feito carinho não acaba, meu bem,
mesmo que venha a idade,
é começo de caminho
que continua na eternidade.
Mesmo que passe o tempo,
por qualquer lugar que for,
será fácil achar os seus passos:
onde você pisa, nasce uma flor.
Árvores do jardim atiram flores em mim
e por qualquer lugar que for,
será fácil achar os seus passos:
onde você pisa, nasce uma flor.
Procura-se
Uma revoada de pássaros levanta voo
de partida para a casa de inverno. Onde?
Uma pessoa colhe flores
e ajeita um ramalhete de presente. Para quem?
Um retrato na parede mira distante. O quê?
Uma nostalgia mansinha tá querendo me pegar. Por quê?
Procura-se um lugar igual antigamente
onde toda minha gente
sabia a refinada arte
de tocar viola ou violão,
dançar conforme a música
e compor uma canção.
Um lugar igual antigamente,
com quintal para os filhos
viverem a infância plenamente
no espaço de jogar, dançar, cantar,
alegrar toda a vizinhança
e dar saudades do tempo de criança.
Tem que ser uma casa com jardim
com roseira, margarida, lírio,
dama-da-noite e amor-perfeito.
e já que a perfeição é um delírio,
serve até amor imperfeito.
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Pega a visão!
Eu queria ser músico competente
de passar para o papel
as notas que vêm à mente
quando as andorinhas
ao chegar em migração
no Brasil tropical caliente
pousam nos fios de alta tensão.
Deve ser uma música muito louca
Pega a visão!
Deve ser uma música muito louca
Sobre aqueles que vivem no chão
Ou sobre paisagens estranhas
Em florestas e montanhas
ou lugares maravilhosos
Éden, Atlântida, Xangrilá…
Se ainda eu tivesse asas
voltaria para lá.
Será que realmente somos
O ápice da evolução???
Pega a visão!
domingo, 8 de junho de 2025
O sopro do vento
sábado, 7 de junho de 2025
Ânimo!
Na cidade do stress há uma viela
com casa, quintal, flores,
um cachorro, pitangueira,
pássaros cantores,
tem balanço em goiabeira
tem beija-flor e borboleta
e no balanço uma criança brinca
de vai e vem sobre o planeta.
O planeta mal pode esperar:
Criança aprendendo a andar,
passarinho aprendendo a voar,
filhote de peixe voltando ao mar,
futuro artista a caprichar
a humanidade a se irmanar.
O filho do Todo Amoroso,
Nasceu bem aqui no planeta Gaia.
Há mais mistérios no céu
do que grãos de areia na praia.
O Todo Amoroso, louvado seja,
escolheu nosso planeta Gaia,
Há mais mistérios no céu
do que grãos de areia na praia.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Menino curioso
Não soube o que responder
quando o menino Victor Félix
perguntou se o ouriço do mar,
que não tem pé nem cabeça,
é um bicho de verdade,
pois parece feitiçaria
de um pajé tupinambá,
que juntou espinhos da brejaúva
e construiu o bicho pindá.
Memória sob cerração
Os anos depositaram camadas de névoas
nas lembranças que guardo de Maria Alice:
sardas, tranças no
cabelo,
uma esquecida música,
e sorrisos sob laço de
fita,
que a pátina do tempo
transformou
em quadro
impressionista.
MDCCCLXXX
Benedito Barba da Praia da Enseada,
(meu tataravô),
o que você caçou?
Um sorriso de mulher,
uma gaivota que mergulhou
e a tintureira apanhou.
Benedito Barba
(barba de desertor),
o que você caçou?
Um papo de baiacu,
um bote de jaracuçu
e aragem no vento sul.
Benedito Barba
(de sobrenome Bento),
o que você caçou?
Uma esperança no vento,
uma dose de espanta-tristeza
e viagem só de ida
para a Praia da Fortaleza.
Mata Atlântica
Esta mata tem segredos
que a ciência não
explica,
esta mata tem medos
que a coragem não
vence,
esta mata tem luzes
que espalham escuros
nas mentes das pessoas,
esta mata tem vozes
de seres que não existem.
Martinha Cabral
Lá vai Dona Martinha, minha avó,
com o pé no presente e a cabeça no passado.
Lá vai Dona Martinha
levando um galho de
roseira
para plantar no jardim de alguém.
Lá vai a parteira Dona Martinha
abrir as janelas do mundo para algum neném.
Lá vai Dona Martinha a caminho da igreja
junto com Santa Teresinha.
Lá vai Dona Martinha levando mantimentos
tirados de sua despensa
vazia
para quem precisa pôr a fome em dia.
Maria Galdina
No asilo do Sertão da
Quina,
na páscoa de 1992,
com mais de cem anos de
idade,
Maria Galdina partiu para o céu
deixou sua maior riqueza,
um conjunto de canecas
de ágata
que ganhou na época da
inocência,
quando todo estranho
bem vestido
era chamado de doutor,
quando todo forasteiro era bem recebido,
quando se acreditava na gratuidade das intenções
e na boa vontade das
pessoas.
E foi por isso que Maria Galdina,
nascida na praia, morreu no sertão.
E foi por isso que Maria Galdina,
morta na Terra, renasceu no Céu.
Maria do Fidêncio
Maria Gaspar do Santos, 89 anos,
mora aos pés de Nossa Senhora de Ubatuba,
sua madrinha de crisma.
E a sua fé é tanta,
que já não conversa,
apenas canta,
mas com tanta emoção,
que revoadas de anjos e
pássaros
ficam se tecendo no jardim,
só para escutar sua
canção.
Nini
Maria Aparecida de Jesus,
minha prima Nini,
é um passarinho de olho na aurora
enquanto apura a cantiga
com sonhos de bailar a dança da vida
e vive a espalhar centelhas de luz,
porque já foi abraçada por Nosso Senhor Jesus.
Maravilhas de Deus
O mundo é mais bonito
visto com os olhos dos
peixes
ou de um mergulhador.
Sob as águas o sol lança luz nas sombras,
revela as cores das
algas
e arranca
irisdescências
das escamas dos peixes.
É por isso que Benedito
Félix,
de tanto ver as
maravilhas de Deus
na baía da Maranduba,
resolveu dividir seu
tempo
de pai, carpinteiro e
mergulhador
com as funções de
ministro
do Pai Eterno, o
Criador.
Recados do vento leste
Tempus fugit
Do progresso
Boitatá
Manoel Félix
Tio Manoel virou maneco
de tanto ver assombros
boitatás, mães do ouro,
estrelas cadentes,
visões de mouros,
pirilampos, peixes pampos,
abraços de tamanduás,
fila de marandovás,
correção de formigas quem-quem,
vozes daqui e dalém
das quais ficou só o eco
e Tio Maneco virou Neco.
Maneco Almiro
Porque toda pessoa tem que ser um artista,
Tio Maneco Almiro empunhou uma rabeca
que trocou por um leitão
e tornou-se um astro da Folia de Reis.
Também era fogueteiro entusiástico
na festa do padroeiro São João Batista.
Acho que foram as suas bombas
que espantaram os anjinhos
que zelavam pelos pescadores
da Praia da Fortaleza.
Malasartes
Todas as árvores da mata atlântica
balançam animadas com a brisa do mar,
menos o guapuruvu
às margens do Rio Fortaleza,
só porque um menino pendurou
em um dos seus galhos,
uma gaiola de alçapão
e capturou uma ilustre visita,
o passarinho azulão.
Made in Pindorama
Samburá, tipiti, covo,
peneira, balaio,
esteira,
de palhas, taquaras e
cipós.
Quem faz um cesto
faz um cento.
Cidade moderna
Na grande cidade dos milhares de prédios-pombais
apertam-se pessoas solitárias ou casais,
em dezenas e até centenas de apartamentos
apartam-se famílias, histórias e sentimentos.
São moradas próprias ou sob aluguéis,
choros e festas são permitidos,
desde que não ultrapassem 50 decibéis.
terça-feira, 3 de junho de 2025
Propagação sísmica
Quando eu era muito novo,
diante da Baía da Fortaleza,
minha avó falou
que não se pode fiar
na mansidão do mar,
pois sua avó ouviu de sua avó
sobre um acontecimento
muito antigo,
alguma coisa
sobre o mar que se levantou
em ondas maiores
que a maior amendoeira,
e semeou mortandade
e destruição
e matou muito cristão.
Desconfio que
o que minha avó descreveu,
à maneira caiçara,
passados centenas de anos,
foi o maremoto de Lisboa.
Projeto de vida
Quando crescer
quero ser igual meu avô,
que acordava de manhãzinha
para trabalhar
na pesca ou na roça,
almoçava na hora certa,
descansava na hora da sesta,
na esteira,
ou na rede,
ou na cama,
para a salvação do corpo
e da alma.
De tarde remendava rede,
negociava banana e farinha,
fazia balaios,
tomava uma ou duas pinguinhas
e a noite o encontrava
dormindo com as galinhas.
Produtos das palmas
Das benditas palmeiras,
não bastassem os frutos,
há os palmitos, os esteios das casas,
os caibros, as ripas, as palhas
para cobertura dos chapéus
e outros tetos.
Procissão
Padres e Frades,
Anjos e Querubins (de faz de conta),
santos e pecadores,
estandartes e estudantes,
cheiro de rosa e jasmim...
parece até que Nossa Senhora
passou diante de mim.
Procissão de Nossa Senhora do Sertão da Quina
Devotos entoam
benditos,
três pombinhas descem
do céu,
festeiros castigam os
pandeiros,
opas e estandartes ao
vento
e anjos no firmamento.
Uma criança fez um
colar
com as flores da
mariquinha da serra
e, de um jeito muito
contrito,
o pôs no pescoço de
Santa Maria,
que fez questão de
ostentar
um sorriso muito
bonito.
Primeiras leituras
Guardo na memória
os primeiros livros
tão caros e tão raros
de histórias de animais, árvores
e lugares fantásticos com
macieiras,
castelos,
baobás,
leões,
pontes de pedras,
oliveiras,
rouxinóis,
vacas leiteiras,
que, em meu conhecimento rudimentar,
situavam-se entre o mundo dos sonhos
e o antigo Reino de Zanzibar.
Presépio caiçara
O marulho das ondas
entra pelas portas abertas
da Igrejinha de São João
na Praia da Fortaleza
e embala o menino Jesus
que dorme tranqüilo,
em uma cesta de timbopeba,
dentro de uma casinha de pau-a-pique.
Os anjinhos curiosos,
com asas de penugem de galinha,
vigiam o sono do menino.
As ovelhas, a vaquinha
e o burrinho pastam
em um chão de musgos.
Baltazar, Belquior e Gaspar
andariam mais mil quilômetros
pela importância e beleza
do momento.
Nossa Senhora e São José
apreciam o conjunto,
um verdadeiro brinco
e abençoam o mundo
no natal de 1975.
Presente do céu
Porque criança mistura
realidade com fantasia
e porque a boca não pôde falar
o que o coração sentia,
deixo aqui registrado
em forma de poesia,
que foi um anjo
que me deu o primeiro presente:
um carrinho de madeira
que achei no quintal de meus avós
sob um pé de laranjeira.
Presente do Céu
A bananeira é um pacote
que conforme cresce
vai se desembrulhando,
folha por folha
até revelar o segredo
de um coração em camadas
que, por sua vez,
também se desembrulha
para ofertar pencas de bananas,
o fruto do paraíso,
explicação para tanta gentileza,
segundo meu juízo.
Presente de pobre
Um favor é uma das poucas coisas
que os pobres podem dar,
assim dizia Vovó Martinha,
ao sair para mais um serviço de parteira
na Praia da Maranduba.
Quando contei essa história
ao professor Aziz Ab'Saber,
ele gostou e comentou:
Como é fácil trilhar o caminho
para o coração da gente,
basta uma solidariedade simpática
tão
comum antigamente.