quinta-feira, 12 de maio de 2016

Historinha da criação

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No dia 03/12/1919
Pierre-Auguste Renoir chegou no céu
e logo foi fazer arte
na paleta de cores do Criador
e, desde então, passou a existir
a saíra de sete lenços,
o passarinho mais bonito do Brasil,
com um lenço verde, outro cinza,
um lenço azul celeste, outro amarelo
um lenço preto, e por fim, um lenço azul anil.

Era uma vez

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Era uma vez um país tropical
que pagava um elevado tributo
de ouro, suor, lágrimas
e um negro, negro rio de sangue
para sustentar o esbanjamento da metrópole
e a burrice da elite colonial.
A história conta que nesse país surreal
foram libertados os cativos
(mas uma liberdade sem pão),
entregues à própria sorte
(mas sem terra, sem casa, sem escola),
para sofrer pena de morte (mas não oficial).
Era uma vez um país cordial.

Ah, se eu ouvisse o que mamãe dizia!

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Evite gente que não presta,
não ponha todos os ovos num só cesto,
com o fogo não se brinca,
muita atenção ao cruzar a rua,
e, caso tudo vá para o espaço,
não dê saltos ao pisar na lua.

Tempo ruim

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A TV mostra a posse do novo governo
com discursos pró-mercado
e ameaças veladas contra conquistas sociais
porque é preciso reduzir os gastos,
há muito o que Temer.
Está calado quem ontem comemorou
e lá fora começa a chover e a ventar
– a frente fria chegou.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Mil novecentos e antigamente

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Quando eu vivia na aldeia de pescadores
não tinha essa história de pagar
pela água,
para ter uma casa,
para falar pelo fio,
para ver o mundo por uma tela,
ou para receber carinho.
Eu retornaria de bom grado
se minha aldeia não se localizasse
tão longe no passado.

Fácil

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Em dias de tempestades
é preciso ter uma mão no leme do barco,
outra no acelerador/ reversor,
outra pra se benzer
quando o barco é arrastado
para uma pedra que está no lugar errado
na entrada da barra do Rio Grande de Ubatuba.

Porto natal

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Esse barco vai longe,
sempre mais do que é possível,
mais do que permite o combustível,
bem além dos maus fados
e os peixes a serem pescados,
Mesmo assim, se o combustível acabar,
ai, se o combustível acabar,
eu pulo para o bote e me ponho a remar,
se o bote afundar, ai, se o bote afundar,
eu me ponho a nadar, até tocar o fundo
na Baía da Fortaleza, diante da Capela de São João,
onde deixei fundeado meu coração,
antes de me perder no mundo.