terça-feira, 21 de setembro de 2021

Gênese caiçara

Um de meus avós, sem brincadeira,

chegou aqui e conheceu a farinha da terra,

a banana da terra e o canto do canário da terra,

então resolveu esquecer Portugal e suas parcimônias,

rasgou a certidão de nascimento e sem mais cerimônias

tratou de arranjar uma tupinambá, 

minha antepassada, Vó Dina,

que ensinou tudo o que a gente sabe,

de remédios da mata às técnicas de pescar.


Parem os psicopatas do desmatamento já!


Eu, meu pensamento e mais o que o vento traz:

idiomas de pássaros, 

rios contando sobre as chuvas no alto da serra,

histórias antigas de árvores e bichos

que os avozinhos também já tinham ouvido...

Ninguém fica solitário nas latitudes tropicais,

já os ventos dos desertos falam só a língua

das pedras e areais.


domingo, 12 de setembro de 2021

História do vento forte


A ventania de ontem me trouxe a história 
de quem teve a sorte de nascer
entre mar e mata de restinga,
onde há ranchos de canoas,
casinhas de caiçaras,
muita criação nos quintais
e mais as crianças de pés no chão,
que as mães têm que chamar pelos nomes:
Ana Maria! Eugênia! João!
para lembrar a hora de almoçar
e de tomar banho para ir à escola
para saber um pouco a mais todo dia
e crescer em graça e sabedoria.
É o vento forte que traduz melhor
o sentido das palavras que vêm
de muito, muito longe.