quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Parcerias

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Pescar com rede,
barrear uma casa,
fornear farinha,
dançar o rastapé,
amanhar a terra,
fazer um churrasco,
tirar música do pinho,
tecer a vida
não dá pra fazer sozinho.
Criar os filhos,
remar a canoa,
construir uma ponte,
unir os opostos,
enfrentar perigos
e fazer o impossível,
viver é verbo coletivo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Da arte de fazer amigos

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O bom de sair lá fora e viver
é que fazemos amizades,
às vezes de maneira inesperada.
Dia desses paguei o conserto
de um pneu de bicicleta
para um menino sem um tostão no bolso,
peguei no colo uma criança
para ajudar uma mãe com muitas sacolas
e poucos braços,
dei uns trocados para um bêbado
comprar um lanche -
pelo menos foi essa a sua justificativa -
e quando retornei pra casa
ainda que mais pobre, me achei mais rico.

Vida de aventuras

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Eu bem que gostaria de viver de boa
em contato com a natureza
lá no Sertão dos Souzas,
bebendo água da Serra,
trabalhando no tempo bão,
e no tempo de chuva
ponteando um violão.
Enquanto não chega essa oportunidade
não tenho outra opção
senão levar a vida perigosamente
ao cruzar avenidas movimentadas,
consumir agrotóxicos nas saladas,
ser fumante passivo,
trabalhar em escola e
comer croquete de rodoviária
acompanhado de coca-cola.

sábado, 15 de novembro de 2014

Semeando nas nuvens

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Meus avôs plantavam na terra e colhiam no mar,
eu vivo de semear poemas nas ondas hertzianas
para que brotem na seção lírica da nuvem cibernética,
e que ao serem colhidos de São Roque a Nova Iorque,
de Hortolândia a Groenlândia, de Quiririm a Pequim,
acolham por lá, também, um pedaço de mim.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Voo livre

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As pessoas que se atiram das alturas
Em voo livre, paraglider e bungee-jump
São pássaros de asas podadas
Tentando reconquistar os ares
a partir de lembranças de vidas aladas
Ou anjos caídos tentando reerguer-se
E recuperar uma centelha de divindade
em sua humana fragilidade?
obs: imagem de S. José de Cupertino, o Santo que voava.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cadê a mata atântica que estava aqui?

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Os homens vieram com machado e fogo,
botaram a mata abaixo,
queimaram até a beirada do rio,
e assustaram a boniteza do mundo
e agora é preciso muito caminhar
pra ver e ouvir os ventos nas árvores,
todas as cores do verde,
as mil raças de passarim
e as águas que cantam nas cachoeiras
uma nostalgia sem fim.

sábado, 8 de novembro de 2014

Diga-me o que tu lês e eu te direi quem és.


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Jorge Luis Borges, enquanto teve olhos, leu de tudo.
Depois tratou de arranjar quem lesse por ele
e passou a pedir leituras que não cabem em livros.
Com frequência pedia que fosse lido
as cores do céu, o estado das almas,
o comportamento dos pássaros,
os jogos infantis, a aparência dos passantes…
Ou seja, de todas as leituras,
ele passou a escolher as mais importantes.

sábado, 1 de novembro de 2014

Pátria amada

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Pode vir dono de milhões,
pode vir cantilena de sereia,
que não vendo minha casinha,
não largo o macio da areia,
não deixo meu ranchinho de canoa,
pois sou garoupa entocada,
sou craca na pedra,
sou parceiro de São Pedro,
sou batizado no mar,
conheço o mundo das águas,
sei ler o tempo no livro do céu,
sei correr canoa no pano,
nasci na terra firme,
mas minha pátria é o oceano.