sexta-feira, 30 de junho de 2017

Muro da vergonha

















Duas crianças fazem acenos para os avós
de cabelos encanecidos.
Os avós estão na janela de um prédio,
as crianças estão no chão,
na terra de ninguém.
Entre avós e netas tem o arame farpado
na faixa do futuro muro de Berlim,
e guardas armados para separar
o amor entre pessoas que se amam
de um lado tem a Alemanha,
de outro, também.
Ai, a imbecilidade desumana!

O Rio  Grande separa dois mundos,
 ao norte, os EUA, ao Sul, o México.
Às margens do rio se reencontram
as famílias separadas há longo tempo
e dão abraços e choram nos ombros
uns dos outros
pelo tempo cronometrado de três minutos.
De um lado têm seres humanos, de outros também.
Ai, o poder ainda continua com os brutos.

domingo, 25 de junho de 2017

Ilha Vitória











Têm poucas visitas na Ilha Vitória
onde barco não atraca
por falta de cais,
por falta de praia.
Seus frequentadores mais ilustres
são baleias-jubartes, tubarão aniquim,
arraias-mantas e o peixe mero.
Dizem que, quando a Lua está cheia,
mostrando sua face mais bonita,
é justo ali que boia o peixe-lua,
só para admirá-la,
aquele velho selenita.





Sem muros, no wall.

O lugar onde nasci
não tinha muros
para separar as casas,
desunir as famílias
ou distanciar as pessoas.
Nós, crianças, passávamos de um quintal
para outro e os cachorros
nem davam alarme porque nos conheciam,
éramos todos uns viralatas.



Boas vizinhanças




Eu não preciso de despertadores
Mecânicos ou eletrônicos,
Pois moro em uma casa
Com uma família de corruíras
Em um buraco da parede
Por direito de usucapião,
Pois lá residem desde o  início da construção.
Na fase do reboco eu não tive coragem
De obstruir a porta da casa dos vizinhos,
Alguém teria?
Achei melhor deixar tudo como estava
E escrever uma poesia.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Perdidinho

Muitas vezes me perdi
no caminho entre a minha e sua casa
e cheguei muitas vezes atrasado
porque tinha que atravessar
um trecho de mata com muitas árvores
e respectivas consequências:
flores, frutos e pássaros.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Poema feito com Dora


A Bahia fica mais perto do que muita gente pensa,
está presente na alma,
nos livros,
nos ritmos que uniu o Brasil à África.
A Bahia se espalhou por todo o país
nas aves de arribação,
nos caminhos da migração,
no fundo do coração.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Evolução da espécie










Tem pessoas que mergulham
tão de cabeça no mar
e ficam tão envolvidos com a diversidade
que há no planeta água,
que é preciso lembrá-los
que ainda não são 100% peixes.
Tem pessoas que pulam de montanhas
e vão planando até voltar,
mesmo contra a vontade,
a pôr os pés no chão,
que é preciso lembrá-los
que ainda não são 100% pássaros.
Contudo, se persistirem, um dia o serão.

domingo, 11 de junho de 2017

Dica




É à esquerda que bate o coração.
Por que tem tanta gente perdida
na era da informação?

Detalhes


As cores da saíra sete-lenços,
a dança do tangará,
o gosto do caqui,
o cheiro da tangerina,
a alegria dos botos,
o verde de seus olhos,
o rio que desce da serra.
Deus criou alguns detalhes
só para enfeitar a Terra.

Mensagem para Órion



Aqui na Terra continua a ter
ricos e pobres,
ostentação e penúria,
fome e desperdício,
guerras declaradas e, outras, não declaradas,
balas direcionadas e, outras, perdidas.
O dinheiro detém  o poder político
e, também, as consciências.
Mas ainda não se recomenda
descartá-la em um black hole,
ainda há esperanças
de tirar os neuróticos do controle.

Tá frio














Em Ubatuba a corrente polar atlântica
tocou as baías e enseadas
trazendo pinguins do sul do mundo
e também tainhas
que, na madrugada, o caiçara vai cercar
com rede de picaré e cachaça,
quem vai no calão de fora
tem direito a dose dupla.
Passem isso adiante
até chegar a Campos do Jordão,
álcool é um ótimo anticongelante.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

A voz da natureza


As pessoas falam e as folhas farfalham,
mas o que elas farfalham?
Neste momento, aqui em casa,
elas estão farfalhando 
que está chegando uma frente fria,
que está na hora de comprar aipim
para preparar caldinho,
para você voltar para mim.


sábado, 3 de junho de 2017

Herança poética





Antigamente não tinha essa história
de dividir a terra em lotes
e as pessoas em classes
porque o bicho tinha que ser pego à unha
em esforço conjunto,
não fazia sentido ser egoísta
e se dizer dono dos rios,
das árvores, dos campos plantados
por Deus - God - Dios.
Naqueles tempos as pessoas
se expressavam por poesias
das quais restaram as palavras bonitas
que recebemos de herança:
latitude, aurora, saudade,
vagalume, amor, esperança...

Árvore genealógica
















O lado luso da minha família,
um certo Antonio, foi condenado a penar
nas perigosas colônias do Brasil por furtar
o coração de quem era proibido roubar.

O lado afro da minha família
estava em uma guerra entre tribos rivais,
um antigo esporte muito popular,
quando foi capturado, vendido para os mouros
e a África não reviu jamais.

O lado bugre da minha família
cruzou há mais de vinte mil anos
o estreito de Bering
na época de Era do Gelo,
não se acostumou com tanto frio,
veio seguindo a rota do sol,
até que chegou ao Rio,
Rio de Janeiro,
tirou o capote de pele de urso polar,
correu para a praia, mergulhou no mar
e se transformou em tupinambá.

Deles herdei esse jeito de escrever poemas.