domingo, 26 de janeiro de 2020

Idade madura



Déficit de neurônios, adeus,
se, atualmente, não há coisa com coisa,
procuro cavoucar poesias,
para ver surgir poemas
em mentes que eram vazias.
Benditas sinapses mentais,
nos caminhos da serena maturidade
São Suassuna nos desorientais.


Oração



Nhanderu, grande senhor, retornai do infinito,
voltai em uma singularidade-espaço-temporal,
vinde salvar a sua Terra,
salvai-nos dos dentes da escavadeira
e dos homens da motosserra
que em dois instantes derrubam a mata
e arrasam toda uma serra.

Ou então, Nhanderu,
se estiveres ocupado em criar
uma nova constelação ou quasar,
mandai, então, Tupã parar os loucos
que propõem tirar os direitos dos nativos,
levar à extinção os animais
e trocar a floresta
por pastagens e canaviais.

Atendei-nos, pois é chegado o tempo de salvar
aqueles que sabem que bicho é irmão
e que até a árvore tem coração,
mas que seja logo, ó Pai de Tupã,
para  impedir que as trevas da ignorância
apaguem a luz da manhã.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Festa da Nau Catarineta



Na célebre Nau Catarineta,
que após passar por uma tribulação,
se armou uma função
na qual veio a ser declarada virtuosa
uma sirigaita por tocar bem a gaita,
que teve até anjo que pinchou de lado a lira
para vir à Terra só para tocar guitarra
e solos de metais quase iguais
aos de Louis Armstrong, o da corneta,
(que eu também acho que  veio de outro planeta),
foi lá que meu antepassado sonhou que tocou,
com o tataravô de Jacob do Bandolim,
sustentáveis sustenidos de clarineta,
tudo isso na mesma Nau Catarineta.
Qual é o instrumento mais difícil de afinar?
É o ribombar do tambor
que bate no peito
de quem está perdido de amor.
















terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Conexões da vida


Nas enormes estações rodoviárias
tem um grande número
de linhas, horários e destinos,
com muita gente chegando
e, outras, estão de partida.
A vida também é assim,
hoje estou aqui,
amanhã o que será de mim?


segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Abaixo a cardiopatia!




A minoria destruindo, odiando, desmatando e assassinando.
A maioria construindo, curando,  ensinando, orando,
abraçando, aprendendo e  escrevendo.
O coração desfibrilando.

Juntos no mesmo barco




Estou cansado de olho no olho,
o que eu quero é olho no coração.
E, também, chega de discursos bonitos,
o que eu quero é ação.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Recados nas pedras





Da época dos mastodontes,
gliptodontes e megatérios
ficaram só os fósseis e os mistérios
do mundo que se acabou todinho
de não restar nem mais uma única
macrauqueniazinha, por exemplo.
Ai, Deus do Céu, Deus da Terra,
não deixe que se acabem de novo
os seres do mar, os bichinhos da serra,
e, no entremeio, resguarde
quem ensinou São Pedro a fazer pirão
com caldo de peixe e banana-verde.







terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Santiago Bernardes, poeta de Ubatuba



O poeta Santiago largou emprego fixo,
foi para o sertão e virou auxiliar de roceiro,
para ficar longe da cidade e seus problemas,
para ser mais íntimo da terra,
e cultivar milho, feijão, bananas e poemas.

Viva S. Peregrino



- Me diga, São Peregrino,
e se vem um ladrão e o assalta?
- Ora, mas por que,
se não tenho nada que lhe falta?

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Homo urbanus


Lá fora está um Sol tropical, mais de 30º C na sombra,
e eu aqui engravatado, meias e sapatos nos pés,
sob o ar e o comportamento condicionados.
Não tenho medo do fato fortuito prejudicial,
pois tenho seguro de vida, de carro e residencial.

Preciso ganhar muito dinheiro
para pagar pela água que bebo,
pela energia que ilumina à noite,
pelo gás, pelo telefone, pela internet,
pelos alimentos que consumo
e até pelos dejetos que vão para o lixo,
ou para a rede de esgotos
e depois o problema não é mais meu.

Fico doente? O médico me cura.
Tenho grilos na cuca? Apelo para a psicologia.
Preciso de exercícios? Frequento uma academia.

Com tudo isso me pergunto, estou errado ou estou certo?
Por que Chico Lopes virou bicho do mato?
Por que Walt Whitman foi morar no bosque?
Por que Nosso Senhor Jesus foi para o deserto?


A falta que faz




Quando quero peixe no almoço,
eu não preciso acordar cedo,
não preciso remar a canoa
e nem puxar a rede
como faziam os meus avós,
eu vou ao mercado e os compro.

Quando preparo suco de frutas,
eu não preciso semear a semente,
não preciso cuidar da planta
e nem preciso fazer a colheita
igual aos meus parentes,
eu vou à quitanda e as compro.

Quando minha alma sente falta de Deus,
que sentava à mesa de minha família,
que dividia conosco tristezas e alegrias,
que orava com a gente na capela diante do mar,
onde o posso reencontrar?

Notívago



A noite ia bem adiantada na vila dos pescadores,
repousavam as pessoas e os animais,
menos o caiçara que exagerou na cachaça,
dormiu dentro de uma canoa e agora está desperto
olhando admirado uma pessoa gigantesca
que saiu do mar, deu passos largos na areia,
depois inspecionou a vegetação do jundu,
se curvou para colher abricós da praia
e, por fim, retornou ao lugar de onde veio.
Pensando que ainda estava bêbado,
o pescador voltou a deitar no fundo da canoa
e, ao despertar, o Sol e o mundo
já vinham nascendo para o novo dia, na boa.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Fim desse tempo e começo de um tempo novo

O que foi não pode ser mudado,
mas o que é e o que ainda será feito
depende de mim, de você, de nós todos
que caminhamos de braços dados,
fazendo uma corrente só de gente
que tem cabeça consciente
de que a vida deve ser respeitada
seja dos bichos, das árvores
e, principalmente, das pessoas.
Vamos todos nos juntar,
deem as mãos a quem tira o lixo do mar,
a quem espalha a luz de Deus
para iluminar o ambiente,
e, muito importante,
nada de espaço para os nefastos,
pois é o amor é que vai nos levar além,
rumo ao novo tempo
em que ninguém solta a mão de ninguém!