domingo, 21 de abril de 2019

Além dos limites


No breu.
No breu da noite nublada no mar de fora, sem bússola, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão.
No breu da noite nublada no mar de fora, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão, em quase desespero, rogue a Deus que se abram as nuvens para mostrar o setestrelo.
No breu da noite nublada no mar de fora, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão, em quase desespero, peça a Deus que se abram as nuvens para mostrar o setestrelo, para achar o rumo do porto de Ubatuba, para a capela de Nossa Senhora do Itaguá, onde se entoa a ladainha pedindo proteção para todos os desventurados.
No breu da noite nublada no mar de fora, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão, em quase desespero, peça a Deus que se abram as nuvens para mostrar o setestrelo, para achar o rumo do porto de Ubatuba, para a capela de Nossa Senhora do Itaguá, onde se entoa a ladainha pedindo proteção para todos os desventurados que erraram em navegar muito longe da segurança, muito perto do perigo; muito perto do abismo, muito longe da esperança.

Princípios















O importante é saber bem as origens,
é conhecer a própria história
e a maioria dos brasis
misturam senzalas, aldeias e caravelas,
minha família entre elas.
Quem ataca minhas raízes é meu inimigo,
quem propaga o amor como solução
é minha irmã, é meu irmão.
Eu aprendi com meu avô que,
mais importante que remar,
é saber se orientar.



sábado, 20 de abril de 2019

Resistência



Guaruçá é caranguejo das praias,
tatu é bicho dos morros.
Eu nasci guaruçá, perdi minha toca
e hoje moro no sopé da serra,
mas me recuso a ser tatu
e vou fazendo versos após versos
com casos dos pescadores e do mar.
Mas, o que eu queria, mesmo, é ser carapirá,
um tanto da terra, um tanto do céu e o resto é mar.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Companhia para a estrada


Se é para pôr os pés na estrada,
eu quero ir em boa companhia
com gente que ama a natureza,
que enxuga o rosto de Jesus,
que canta as músicas
de Chico, Milton e Caetano,
que vota na esquerda,
que escreve recadinhos assim:
"Fui na casa de Ana C,
deixe um pedaço de torta para mim."

Peixe-palavra



Construir um poema é o contrário
de pescar com uma rede de malhas grandes,
as palavras retêm no papel
uma pequena parte das ideias
e deixam escapar os grandes peixes,
os mais vistosos e vivazes,
que atravessam a frágil rede da memória
e retornam ao imenso mar de fora.


terça-feira, 9 de abril de 2019

domingo, 7 de abril de 2019

Lágrimas do jubarte












Tio Chico pescador
pescando no mar virado,
viu lágrimas nos olhos
da baleia jubarte
no exato momento em que ela espiava
o que restou dos manguezais
das praia de Ubatuba.
Onde o robalo vai se reproduzir?
Em que lugar a vida vai resistir?
Onde a tainha vai desovar?
De onde virá o peixe
para o Senhor Jesus multiplicar?