sexta-feira, 27 de novembro de 2020
No reino de Dona Eugênia I
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
Os delicados fios da vida
É juntando os fios,
Cada qual com sua função,
Cada fio com sua cor,
Juntos por associação,
Que se constrói uma tapeçaria.
Se houver algum fio rompido,
a obra fica incompleta
e o tecido fica enfraquecido.
Assim é com a vida,
Cujos tecidos são os ecossistemas,
Cujos fios são os seres vivos,
Que convivem em equilíbrio,
Eu vivo, você vive e viva nós,
como acontece nos manguezais
Que só existe na foz
Onde o rio se encontra com o mar,
Onde muitos peixes e outros bichos
Vêm se reproduzir e se alimentar.
Ali a vida tem um equilíbrio tão delicado
Que se um louco cometer o pecado
De poluir, aterrar ou fazer o corte
Das águas, das margens, das plantas,
É uma sentença de morte
Para santos e pecadores,
Para peixes e pescadores.
Mas, por causa do ouro,
Os gananciosos não veem o tesouro
Que é a vida em abundância,
E destroem e matam
Por causa da ganância,
Como aconteceu de sul
Até ao centro de Ubatuba.
Por enquanto só escaparam da morte
os manguezais do norte.
Destruir os ecossistemas passou a ser um jogo,
Mas é um jogo terrível,
Do qual sairemos todos perdedores...
Quem consertará a tapeçaria?
Quem reconstituirá suas cores?
sexta-feira, 24 de julho de 2020
Duras lições
Histórias do avô dos peixes
com árvores a fazer sombras no mar,
de rios a trazer água limpa e doce
para reduzir o amargor do mar
e de imensos manguezais
até a vista não alcançar mais...
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Segredos das profundezas
Meu tio, um famoso pescador de mergulho,
foi chamado para pescar um mergulhador
que demorou demais no fundo
dos abismos que rodeiam a Ilha Vitória
e o achou entre as pedras e as algas,
parecendo à vontade em ambiente familiar.
- Que aconteceu com ele, caiçara?
- Mergulhou para nunca mais voltar.
Frente fria
chegou tão chuvosa e fria
que faz até minha canela doer,
lá fora, desdenhando as intempéries,
tem um jovem trabalhador de construções
gastando suas energias
cavando alicerces, carregando tijolos,
para erguer moradias.
E o dinheiro do vale semanal
em parte vai para ajudar a família
e a outra parte é para os livros e jornais.
A vizinha perguntou para mamãe:
- Por que seu filho
não é como os jovens normais?
Livro de sebo
quarta-feira, 15 de julho de 2020
Navegações
quarta-feira, 1 de julho de 2020
Poema para Théo
Para quem quiser saber,
todos os segredos do universo
estão na gestação de um bebê,
os elementos se juntando,
a vida se desenvolvendo,
os astros se multiplicando
domingo, 14 de junho de 2020
Longevidade
Cajueiros
Meteorologia popular
Se de tarde perguntar ao vento
sobre as condições do tempo
e o vento se mostrar enigmático,
repita a questão para o mar
que, exceto em dias de calmarias,
tem sempre algo a informar.
Em último caso, insista com as nuvens,
as nuvens não escondem nada,
por exemplo, elas sempre avisaram mamãe
para recolher as roupas do varal
antes do susto da trovoada.
sábado, 13 de junho de 2020
Preferências poéticas
Eu aprecio os poemas
com rumor de cachoeiras que cantam
que até as pedras mais ásperas
são suavizadas pela leveza das águas.
Eu gosto de poemas de cantigas de passarinhos
cantadas e aperfeiçoadas de geração em geração
nos galhos das fruteiras carregadas
e nem precisam ser poemas
com as palavras rimadas.
Eu prefiro os poemas que tresandam
a cheiro de capim orvalhado
às margens de um caminho
que não tem outra serventia
senão ligar-nos com o passado.
domingo, 7 de junho de 2020
Aonde nós vamos?
Floresta Amazônica, cerrados,
manguezal bercário das tainhas,
crustáceos, celenterados,
zangões, abelhas rainhas,
onças pintadas, pacas,
elefantes paquidérmicos,
algas clorófitas, cracas,
águias, seres estratosféricos,
acarás, tamanduás bandeira,
homens, mulheres, a criação inteira,
que há milhões de anos viajamos juntos
na translação de 108.000 km/hora,
calma que estamos chegando lá,
a leste já se vê a aurora.
domingo, 24 de maio de 2020
Poema de domingo
Quando a gente chegava da pescaria
domingo, 17 de maio de 2020
Fé e obras
Toda montanha começou colina,
Marco Polo na estrada
buscou o caminho da China,
foi menino o gigante Adamastor,
Bartolomeu de Gusmão foi padre
e tornou-se homem-voador,
de tijolo em tijolo se faz mil casas,
antes a gente não tinha
e Santos Dumont nos deu asas,
se uma árvore inteirinha
cabe em uma semente,
imagina a potência da alma
que está dentro da gente?
Poema dos tempos difíceis
Que as borboletas alegrem
as entrelinhas de toda as palavras,
que brotem também margaridas
no meio de todas as lavras.
Da mesma maneira
que um produto não vale pela embalagem,
não importa a prosa das pessoas,
o que vale são as poesias.
E um tapinha nas costas
nada vale sem uma ação amiga:
não esqueçam do pão que sustenta
a cigarra que canta para a formiga.
sexta-feira, 15 de maio de 2020
Fiquem firmes
O vento vai dissipar as nuvens escuras no céu,
o povo vai acordar com as más notícias dos jornais,
o homem de sangue haverá de tombar,
os falsos profetas não enganarão mais,
o dinheiro já não comprará consciências,
a ignorância não é mais do que a ciência
e depois que passar essa pandemia,
se outra vier, que venha a da empatia.
domingo, 10 de maio de 2020
Feliz Dia das Mães
sexta-feira, 17 de abril de 2020
Crônicas do futebol: casos engraçados
“Doutor, o meu corpo todo dói. Onde eu ponho o dedo dói. Se boto o dedo na perna, dói. Se ponho o dedo na barriga, dói. O senhor sabe o que eu tenho? “
“Deixa eu ver a sua mão! Mas que coisa Jardel, você quebrou o dedo!”
O Diamante Negro
O tempo passou, o nosso herói veio a falecer em 2004, passou para a história do futebol, mas o chocolate que leva seu apelido continua popular e é um dos mais vendidos pela Lacta, até aos dias de hoje.
Gostaria de ver a empresa fazer um pequeno gesto de reconhecimento, explicando nas embalagens do bombom o histórico do “Diamante Negro”, para que as novas gerações tenham, também, o prazer de saber quem foi Leônidas da Silva.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
Poesia no futebol
Gosto muito de acompanhar os jogos de futebol pelas ondas radiofônicas. Mais do que o desenrolar da refrega esportiva, aprecio o colorido dos comentários e narrações feitas pelos radialistas. Gosto, principalmente, daqueles que esticam a liberdade de expressão para tentar descrever com palavras o que os olhos mal podem acreditar, são os narradores poetas.
É a mais pura poesia quando se ouve dizer que saída do vestiário é “boca do jacaré”, jogadores são chamados de “os protagonistas”, dirigentes são “cartolas”, a torcida é denominada de “milhares de não combatentes”, ou quando o choque de oponentes passa a ser “acidente de trabalho”.
Tem ainda muita criatividade e emoção, quando no calor das partidas, usa-se as expressões “Goleiro de mãos de folha de alface!” “Açougueiro na defesa!” “O arqueiro só caçou borboletas!” “A bola foi direto aonde dorme a coruja!” “Gol do meio da rua!” “Ao apagar das luzes!”
A torcida vai ao delírio! E eu vou junto!
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Boa Páscoa
domingo, 12 de abril de 2020
O amor vai salvar o mundo
Qualquer pai ou a mãe
gosta de um carinho dos filhos,
mesmo que seja através de cartões
do dia das mães ou dos pais,
com desenhos e borrões
de casas com janelas e portas tortas,
com uma chaminé soltando fumaça
- e a gente nem tem mais o fogão a lenha -
pessoas com pernas de palitos,
às vezes tem um gato
feito a partir do número oito,
cachorro é mais difícil de desenhar
e a mãe tem um imenso coração
sempre bem caprichado.
Com Deus também é assim,
a Amor quer ser amado.
terça-feira, 7 de abril de 2020
Mil novecentos e antigamente
A nossa gente vivia assim:
fogão a lenha na cozinha,
crianças por todo lugar,
segredos na camarinha,
rádio de válvulas no aparador,
oratório na sala,
a morada de Nossso Senhor.
A nossa gente vivia assim:
a canoa fundeada no raso,
a rede preparada,
o espia a soprar no búzio,
o anzol na linha,
o espinhel na espera,
pois está chegando a tainha.
A nossa gente vivia assim:
um pouco de peixe,
um pouco de farinha de mandioca,
uma pitada de sal,
o tempero de um limão,
um tanto de coentro
e estava pronto o pirão.
A nossa gente vivia assim:
muitas bananeiras em volta de casa,
cana-de-açúcar, cafeeiros na capoeira,
coqueiros, cajueiros no quintal,
laranjeiras, rosas, mil-flores
e mais um pé de jasmim...
Ai, meu Deus, que saudades de mim!
Sonho de felicidade
Viagem para longe
segunda-feira, 6 de abril de 2020
Poema para Thaís
Thaís mora em Boiçucanga,
é filha do Caramujo,
mas não gosta de viver na concha, não,
na verdade ela procura a luz e o calor
nas horas em que o Sol é mansinho
e, também, para ficar atenta
às notícias que o vento traz:
novas rosas se abrem na roseira,
alguém está preparando peixe para o almoço,
uma música que está tocando no rádio...
Gosta muito quando os passarinhos
vem contar fofocas uns para os outros
e fica prestando atenção.
Longe, lá em Ubatuba,
um professor a guarda no coração.
Obs: Thaís, desde o ano passado não consegue mais ver,
mas não permitiu que a doença lhe tirasse a alegria de viver.
sábado, 4 de abril de 2020
Fé em Deus
Deus existe porque mamãe falou
e a gente a obedecia em tudo,
ela sempre aconselhava a fazer orações
e eu, sempre com dúvidas em gramática,
pensava em orações, frases e períodos
e me atrapalhava todo, até que um dia,
em vez de oração, eu resolvi fazer poesia:
Deus, eu não o vejo,
nem o amor que não passa de abstração,
mas que existe na gentileza das árvores frutíferas ,
em mendigos que repartem o almoço com um cão,
na solidariedade dos botos com os náufragos,
em mamãe fazendo milagres
para não deixar faltar nada aos seus...
Meu Deus, o senhor é amor, Deus!
Parada obrigatória
A correria era tão grande,
casa-condução-trabalho-condução-casa,
que não nos importávamos com o corpo,
muito menos com a alma,
não tínhamos tempo para a família,
nem para sentir saudades,
já não dormíamos, apagávamo-nos.
E de tanto nos apagar
o corpo foi dando sinais,
o brilho dos olhos a falhar,
os ossos e músculos a doer,
o coração a disritmar,
o pulmão com muita tosse...
Isso é poesia? Antes fosse.
sexta-feira, 3 de abril de 2020
1970: trecho de notas sociais da Praia da Fortaleza
Hoje de manhã a rede do Zé Almiro
trouxe muitos cações, betaras, corvinas,
linguados, carapebas e robalos
e os parceiros na pescaria ganharam uma boa porção.
Dona Eugênia, capricha no coentro e no limão!
Tia Aninha manda avisar que não esqueçam
da novena na Capela de São João Batista
para pedir a Deus para vir nos abençoar
com abundância de peixe e farinha de mandioca,
ou depois não adianta choramingar.
O ônibus do Expresso Rodoviário Atlântico
trouxe de Santos, via São Paulo,
o Marcelino do Zé Almiro, que trouxe notícias
dos parentes que foram para a cidade grande,
mas, maior que tudo, são as saudades.
Oliveira Antero de Oliveira
está completando 45 anos de idade
e avisa que combinou com Nosso Senhor
que pretende viver mais 50 anos
e que isso não é papo de pescador.
terça-feira, 31 de março de 2020
Histórias contadas pelo rio
Da antiga propriedade restaram a ruínas da casa grande
abraçadas pelos cipós que pendem das árvores imensas
que lançam sombras sobre histórias muito tristes
do tempo em que o país era sustentado pela escravidão,
quem será que ali plantou um salgueiro da babilônia,
que o vulgo também chama de chorão?
Os homens se ausentaram da terra
mas os semelhantes acharam espaço para os semelhantes
e agora entre os guapuruvus e embaúbas tem bananeiras,
no meio dos caniveteiros e manacás tem laranjeiras,
ao virar a página do livro de história, a exploração acaba,
e agora só os pássaros aproveitam a doçura da jabuticaba.
O rio do lugar continua a correr entre as pedras
e contar as mesmas histórias do começo da criação:
"aqui a alga virou limo e grimpou as pedras,
ali nasceu o avô do peixe e pai do camarão,
o Cuidador das águas sempre amou os viventes
desde quando as ondas do mar vinham até às nascentes".
domingo, 29 de março de 2020
Celebração da vida
Para espantar a tristeza e a alegria voltar a rir
eu aqui canto o segredo para quem quiser me ouvir:
quando o passarinho fica jururu
tira umas notas do peito e se põe a cantar,
cantador quando fica triste
abraça a viola e faz a alegria voltar.
Para assustar a tristeza e a alegria voltar a rir
eu aqui canto o segredo para quem quiser me ouvir,
as delícias da cozinha caipira
são galinha com quiabo,
carne-seca com cambuquira,
polenta bem temperada,
arroz com tutu de feijão
couve-manteiga refogada
de trazer a alegria de volta
e manter a tristeza afastada.
Quando o passarinho fica jururu
tira umas notas do peito e se põe a cantar,
cantador quando fica triste
abraça a viola e faz a alegria voltar.
Para acabar com a tristeza e fazer alegria sorrir
eu aqui canto o segredo para quem quiser me ouvir,
o bule com café quente nos dias frios do inverno
mantém a alma aquecida e o coração sempre terno,
se a alegria é vida, que a tristeza vá para o inferno.
Eu vou voltar ao rancho em que vivi
com o bananal a crescer entre as alegrias
gerando em cada cacho uma penca de poesias
e onde as águas da bica põe o monjolo a socar
o amendoim para a paçoca, o milho para o fubá
para fazer angu de isso com tudo que a vida dá.
Para espantar a tristeza e a alegria voltar a rir,
eu aqui canto o segredo para quem quiser me ouvir:
quando o passarinho fica jururu
tira umas notas do peito e se põe a cantar,
cantador quando fica triste
abraça a viola e faz a alegria voltar.
sábado, 28 de março de 2020
Vovó Eugênia
daquela data em diante, a caça ao tamanduá.
quarta-feira, 25 de março de 2020
Abrindo o coração
Eu gosto de dormir com a música da chuva
nas folhas das bananeiras;
costumo sonhar com os olhos abertos
e minha mulher diz que é sina de família;
me perco nas páginas de um bom livro
e fico a dever tempo aos deveres;
me emociono com a história de Malala
até aos dias de hoje;
sintonizo sempre nas palavras, cantadas ou não,
dos pássaros da mata atlântica;
gosto de beijar meus filhos,
mesmo depois de crescidos
e canto músicas bregas debaixo do chuveiro
e tudo escorre para o ralo.
terça-feira, 24 de março de 2020
Coronavírus e outros vírus
As maiores pragas a ameaçar o planeta
vêm dos micróbios patogênicos
e, também, dos macróbios oportunistas
cujo deus é o dinheiro:
os incendiários que tocam fogo na Amazônia,
os especuladores a lucrarem com a miséria alheia,
os milicianos cujas riquezas pingam sangue,
os traficantes que transformam jovens em zumbis,
os políticos a desviarem recursos da merenda escolar,
os covardes que atacam índios, crianças e mulheres,
os falsos profetas que usam o nome de Deus em vão,
os grileiros de terras que deixaram Dona Luzia na rua,
os capitalistas que aterraram os manguezais de Ubatuba,
os criminosos que lançam esgotos e lixos nos rios
e que depois vão matar a vida no mar...
Mas agora emperrou a máquina de produzir dinheiro,
travou a engrenagem do sistema que fez seis bilionários
concentrarem tanta riqueza quanto metade da humanidade,
está suspensa a exploração dos mais pobres e assalariados,
parou a queimada das florestas e extinção dos bichos,
as fábricas deixaram de lançar poluição nos ares,
os peixes voltaram a se reproduzir nos mares,
as árvores voltaram a respirar,
na China o ar está com mais leveza
e as águas estão mais limpas
no litoral de São Paulo e nos canais de Veneza.
segunda-feira, 23 de março de 2020
Leituras
Tem gente culta que sabe ler em línguas estrangeiras
ou até os hieróglifos dos egípcios,
mas não tem a sabedoria de ler a escrita cuneiforme
das pegadas dos pássaros na areia da praia,
ou não compreendem o significado
das mensagens do telégrafo dos grilos.
Meu avô pescador sabia de tudo isso e dizia:
- "A batuíra chegou de arribação,
vai começar o tempo bom."
Ou, então, - "O tempo vai mudar,
os grilos estão afoitos
chamando as fêmeas para namorar."
sexta-feira, 20 de março de 2020
Amor é o remédio
A noite foi sacudida com aplausos
para os trabalhadores da saúde,
vi jovens a se oferecer
para fazer compras de idosos
e vizinhos que cantam parabéns nas janelas
para animar o aniversário de uma criança.
Eu amo a criatividade
daqueles que vencem os vírus
com o despertar da solidariedade...
Tá proibido beijar e abraçar,
tá probido até andar de mãos dadas,
mas não tá proibido amar.
quinta-feira, 12 de março de 2020
Poema para um artista
terça-feira, 10 de março de 2020
Mares de morros
Quando eu era ingênuo,
espiando as alturas da Serra do Mar,
imaginava o que havia mais além,
só depois descobri que depois do morro,
havia outro morro,
com mais morros depois por uma jornada inteira,
e, quando atinava-se com o fim,
ainda estava por vir a Serra da Mantiqueira.
Além das aparências
Na folha vide o verso,
nos versos leia as entrelinhas,
a pálida estrela no firmamento
revelou-se um universo-ilha,
o que o cientista descobriu,
o poeta já sabia.
Regras de trânsito
Gente, asteroide, carro, caminhão,
favor não entrar na rodovia, na via-láctea,
ou na vida na contramão.
domingo, 1 de março de 2020
A música mais antiga
Desde pequeno a gente aprendeu
a imitar os passarinhos
e eles se achegavam curiosos, bobinhos,
para espiar quem estava assoviando
de forma tão arrevesada
suas palavras tão bonitas.
A gente imitava mas não entendia
todas as histórias que cabem nas canções
dos sabiás, canários, etc... e corrupiões.
domingo, 23 de fevereiro de 2020
Dias de mansidão
Depois da plantação cuidada,
de toda a criação tratada,
da rede de pesca recolhida,
minha avó cuidava das flores,
meu avô consertava a rede
e meus tios namoravam.
Só nós crianças estávamos
com os dias simplesmente lotados
em jogar bola na praia,
empinar pipas,
pular amarelinhas,
brincar de jacaré nas ondas,
balançar nos galhos das amendoeiras
e brincar de esconder
até que o tempo nos achou
e tivemos que crescer.
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Escola de poesia
Jardim do céu
e mais mil flores.
domingo, 9 de fevereiro de 2020
Sinais da Era do Amor?
Conheço muito moços e moças
com as mãos bem unidas,
filhos únicos de famílias reduzidas,
ou, no máximo, têm outro irmão ou irmã,
com os pais separados,
que vão por aí afora plantando árvores,
salvando os cachorros
ou abraçando a causa da ecologia.
São muito amorosos,
porque se sustentam de carinhos.
E assim o rumo do mundo
vai tomando novos caminhos
sábado, 8 de fevereiro de 2020
Anúncio
Não sei em que ponto da história,
de tanto me preocupar com trabalho,
salário, resultado e vitória,
acabei por perder a ancestral calma
dos caiçaras, caipiras do litoral,
não sei onde ficou minha alma,
a situação está ruim,
tô com saudades de mim,
quem me encontrar por aí
favor despachar para a caixa postal
na Praia do Perequê-Mirim,
para o ano de 1976,
para a casa com cercas de hibiscos
pelos beija-flores muito frequentada.
Agradeço a atenção dispensada.
domingo, 26 de janeiro de 2020
Idade madura
Déficit de neurônios, adeus,
se, atualmente, não há coisa com coisa,
procuro cavoucar poesias,
para ver surgir poemas
em mentes que eram vazias.
Benditas sinapses mentais,
nos caminhos da serena maturidade
São Suassuna nos desorientais.
Oração
que propõem tirar os direitos dos nativos,
sábado, 18 de janeiro de 2020
Festa da Nau Catarineta
Na célebre Nau Catarineta,
que após passar por uma tribulação,
se armou uma função
na qual veio a ser declarada virtuosa
uma sirigaita por tocar bem a gaita,
que teve até anjo que pinchou de lado a lira
para vir à Terra só para tocar guitarra
e solos de metais quase iguais
aos de Louis Armstrong, o da corneta,
(que eu também acho que veio de outro planeta),
foi lá que meu antepassado sonhou que tocou,
com o tataravô de Jacob do Bandolim,
sustentáveis sustenidos de clarineta,
tudo isso na mesma Nau Catarineta.
Qual é o instrumento mais difícil de afinar?
É o ribombar do tambor
que bate no peito
de quem está perdido de amor.
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Conexões da vida
Nas enormes estações rodoviárias
tem um grande número
de linhas, horários e destinos,
com muita gente chegando
e, outras, estão de partida.
A vida também é assim,
hoje estou aqui,
amanhã o que será de mim?
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
Abaixo a cardiopatia!
A minoria destruindo, odiando, desmatando e assassinando.
A maioria construindo, curando, ensinando, orando,
abraçando, aprendendo e escrevendo.
O coração desfibrilando.
Juntos no mesmo barco
Estou cansado de olho no olho,
o que eu quero é olho no coração.
E, também, chega de discursos bonitos,
o que eu quero é ação.
sábado, 11 de janeiro de 2020
Recados nas pedras
Da época dos mastodontes,
gliptodontes e megatérios
ficaram só os fósseis e os mistérios
do mundo que se acabou todinho
de não restar nem mais uma única
macrauqueniazinha, por exemplo.
Ai, Deus do Céu, Deus da Terra,
não deixe que se acabem de novo
os seres do mar, os bichinhos da serra,
e, no entremeio, resguarde
quem ensinou São Pedro a fazer pirão
com caldo de peixe e banana-verde.
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Santiago Bernardes, poeta de Ubatuba
O poeta Santiago largou emprego fixo,
foi para o sertão e virou auxiliar de roceiro,
para ficar longe da cidade e seus problemas,
para ser mais íntimo da terra,
e cultivar milho, feijão, bananas e poemas.
Viva S. Peregrino
- Me diga, São Peregrino,
e se vem um ladrão e o assalta?
- Ora, mas por que,
se não tenho nada que lhe falta?
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
Homo urbanus
Lá fora está um Sol tropical, mais de 30º C na sombra,
e eu aqui engravatado, meias e sapatos nos pés,
sob o ar e o comportamento condicionados.
Não tenho medo do fato fortuito prejudicial,
pois tenho seguro de vida, de carro e residencial.
Preciso ganhar muito dinheiro
para pagar pela água que bebo,
pela energia que ilumina à noite,
pelo gás, pelo telefone, pela internet,
pelos alimentos que consumo
e até pelos dejetos que vão para o lixo,
ou para a rede de esgotos
e depois o problema não é mais meu.
Fico doente? O médico me cura.
Tenho grilos na cuca? Apelo para a psicologia.
Preciso de exercícios? Frequento uma academia.
Com tudo isso me pergunto, estou errado ou estou certo?
Por que Chico Lopes virou bicho do mato?
Por que Walt Whitman foi morar no bosque?
Por que Nosso Senhor Jesus foi para o deserto?
A falta que faz
Quando quero peixe no almoço,
eu não preciso acordar cedo,
não preciso remar a canoa
e nem puxar a rede
como faziam os meus avós,
eu vou ao mercado e os compro.
Quando preparo suco de frutas,
eu não preciso semear a semente,
não preciso cuidar da planta
e nem preciso fazer a colheita
igual aos meus parentes,
eu vou à quitanda e as compro.
Quando minha alma sente falta de Deus,
que sentava à mesa de minha família,
que dividia conosco tristezas e alegrias,
que orava com a gente na capela diante do mar,
onde o posso reencontrar?
Notívago
A noite ia bem adiantada na vila dos pescadores,
repousavam as pessoas e os animais,
menos o caiçara que exagerou na cachaça,
dormiu dentro de uma canoa e agora está desperto
olhando admirado uma pessoa gigantesca
que saiu do mar, deu passos largos na areia,
depois inspecionou a vegetação do jundu,
se curvou para colher abricós da praia
e, por fim, retornou ao lugar de onde veio.
Pensando que ainda estava bêbado,
o pescador voltou a deitar no fundo da canoa
e, ao despertar, o Sol e o mundo
já vinham nascendo para o novo dia, na boa.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2020
Fim desse tempo e começo de um tempo novo
mas o que é e o que ainda será feito
depende de mim, de você, de nós todos
que caminhamos de braços dados,
fazendo uma corrente só de gente
que tem cabeça consciente
de que a vida deve ser respeitada
seja dos bichos, das árvores
e, principalmente, das pessoas.
Vamos todos nos juntar,
deem as mãos a quem tira o lixo do mar,
a quem espalha a luz de Deus
para iluminar o ambiente,
e, muito importante,
nada de espaço para os nefastos,
pois é o amor é que vai nos levar além,
rumo ao novo tempo
em que ninguém solta a mão de ninguém!