quinta-feira, 8 de maio de 2014

Donos das horas






Donos das horas

Antigamente havia um interregno
após a hora do almoço,
a vida ficava em suspensão,
o mundo calava,
os pássaros silenciavam
e, muitas vezes,
até o vento parava.
Era a hora preferida
para os anjos descerem do céu,
para os santos terem êxtases,
para os poetas caçarem palavras,
enquanto os caiçaras sestavam
e se fortaleciam em esperança
nos sonhos que sonhavam.




Previsão do tempo
Tem um vento se aprontando
no mar de fora,
tem uma tempestade se gestando
enrodilhada num ninho de nuvens
para chegar às desoras
quando todo mundo estiver desavisado,
menos o caiçara de fé e razão,
que já tratou de recolher as redes,
de pôr a canoa no rancho
e de fazer o sinal bento
ao ver o rubro do céu
e ter um atávico mau pressentimento.



Canção para Elisabete

Foi em canoa caiçara
lavrada em enxó
que ganhei tenência
e deixei de ser só.
Foi tenteando bem o fundo
dos mares do mundo,
foi procurando guarida
para as tempestades da vida.
Foi em canoa de vela enfunada
no sopro da viração,
que cheguei de mansinho
no remanso de seu coração.
Foi em canoa caiçara
com vela de traquete,
pramode chegar mais rápido
nos braços de Elisabete.



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