domingo, 18 de maio de 2014

Crônica poética


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Meu avô tinha um bananal
que carregava um caminhão por mês
para ser levado para os santistas
e outras almas famintas.
Meu avô tinha uma casa de farinha
que na colheita da mandioca
forneava uma barrica mais o excedente
pra vender para o comércio
e a preços módicos para quem era parente.
Nos meses frios,
meu avô marinava um cardume de tainhas
em salmoura durante cinco dias,
para depois secá-las ao sol
e vendê-las no atacado
ao Miguel Cabral, dono de armazém,
de um jipe da 2ª Guerra
e de uma garrucha de espantar assombração,
mas essa é assunto para poesia
em outra ocasião.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Distâncias


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Quanto tempo faz
que passei por esta estrada
e pelas sombras destas árvores?
Lembro as casas e famílias
que foram desmanchadas pelo tempo,
dando lugar a novas moradias
e a outras famílias.
Lembro a algaravia de conversas
e músicas de rádio
(meu avô chamava-as de modinhas).
Lembro as dificuldades,
mas, também, o lirismo
de uma vida mais ao ritmo natural:
acordar com o sol, dormir com a noite;
pescar, plantar, ter fé, colher;
cuidar da terra, cuidar das amizades
e encarar com naturalidade,
no entremeio do que é comum,
os nuances da eternidade.

Dona Nena, filha de pescador.


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No canto da Praia das Toninhas
era a minha casa
com quintal todo de areia,
macia de pisar,
boa para criança brincar.
Uma casa bem simples
com assoalho de tábuas,
paredes pintadas de cal,
janelas e portas azuis,
acho que para dar a impressão aos anjos
que porventura viessem nos visitar,
que lá era um pedaço do céu…
e eu acho que era mesmo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Donos das horas


Antigamente havia um interregno
após a hora do almoço,
a vida ficava em suspensão,
o mundo calava,
os pássaros silenciavam
e, muitas vezes,
até o vento parava.
Era a hora preferida
para os anjos descerem do céu,
para os santos terem êxtases,
para os poetas caçarem palavras,
enquanto os caiçaras sestavam
e se fortaleciam em esperança
nos sonhos que sonhavam.










segunda-feira, 5 de maio de 2014

Não olvides

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Vossa mercê, que estais nos prolegômenos
da existência, que rogo ser provecta,
por obséquio, não olvides
a senectude das palavras,
não as deixeis nos alfarrábios,
convide-as para as libações juvenis
ou, quiçá, uma carraspana domingueira.
Salvai-as dos ditirambos,
dos discursos de paraninfos,
cantai-as em saraus e madrigais
dai-lhes a esperança do viço
e renovo dos ares estivais.

Um pedaço do paraíso


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Bola com Mauro, ele toca para Zito,
que faz a finta, deixa com Calvet,
rola pra Mengálvio, olha para o canto,
aparece Coutinho que recebe,
finta um, dois, deixa com Pepe,
driblou o zagueiro, driblou mais um,
passou pra Pelé, chapelou um, chapelou dois,
fuzilou! Goooooooooooool!
E o eco do locutor continuou
na mente e comentários das pessoas
muito tempo depois que o jogo acabou.
As ruas do povoado,
que até então estavam vazias,
começaram a ganhar movimento
de famílias indo pra missa
porque era domingo,
dia de ouvir o padre falar do paraíso
que muitos já conheciam
pelas ondas hertzianas.

Lugares que conhecerei

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São Gonçalo do Rio Abaixo, São Tomé das Letras,
Capetinga, Conceição do Mato Dentro, Espera Feliz,
São Francisco do Brejão, São João dos Patos
e Município de Mira Estrela,
desta constelação, desta federação.