terça-feira, 15 de março de 2016

E se...

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Não gosto de fazer faxina.
E se todos os tempos perdidos,
lembranças que esvaneceram,
compromisso não lembrados,
gentilezas não retribuídas,
amor para quem não ama
estiverem debaixo da cama?

Cupido


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É aqui, em Ubatuba, terra das ubás,
que cupido vem buscar as hastes
para fazer suas flechas de amor, meu amor,
e testa-as para ver se prestam
no coração de quem passa por diante.
Justo em uma dessas ocasiões,
fomos nós os primeiros passantes.

Tiê


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Nestes tempos de fones nos ouvidos
as distâncias se medem por músicas
e foi preciso tocar todo o álbum de Tiê
para chegar até você.

Só para os olhos dos humildes e dos poetas

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O astronauta saiu da nave espacial
olhou para todos os lados
e perguntou em desafio: -“Onde está Deus?”
O malcriado só não obteve resposta
porque perguntou do jeito errado.

Cantiga necessária

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Estiquei o bodoque para acertar
o passarim que pousou na árvore
e ele cantou pra mim:
– “Quem nunca pecou
que atire a primeira bodocada!”
E depois saiu voando
porque não precisava cantar mais nada.

Mais amor, por favor.


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No caminho tem marias-sem-vergonha
que dão colorido a um pedaço de barranco,
mais adiante as bananeiras cercam
e abanam com suas folhagens
as árvores de grande porte,
aqui uma jaqueira, acolá um tarumã.
Depois vem a vegetação de restinga
que acompanha antiga trilha
que leva para a praia
e ao mundo latente na memória
esperando a oportunidade
de reviver no poema e na canção,
que, nos dias que correm,
são poucos usados caminhos de servidão.

domingo, 13 de março de 2016

Manancial lírico

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Sabe dessas crianças pobres que andam com o pé no chão,
que vestem roupas herdadas de irmãos mais velhos,
que brincam de balanço, bola de gude, mergulho no rio,
que só depois que acabam as brincadeiras
é que se lembram que estão com fome, ou com frio?
E que vão para a escola se distraindo pelo caminho
param para pegar goiabas maduras,
ou para espiar um ninho de passarinho?
Sabe, confesso que fui uma dessas crianças,
que vivi em um pedaço daquele universo
que hoje procuro refazer, tijolo sobre tijolo,
memória sobre memória, verso sobre verso.

Poema para Lula


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Você se lembra quando fazia escuro
e o alvorecer era incerto?
Você se lembra dos gritos de dor de Manoel Fiel Filho?
Da boca amordaçada de Vladimir Herzog?
Dos órfãos da camponesa Margarida Maria?
O que você fazia enquanto poucos corajosos
teimavam em apressar a chegada da manhã?
Como você vivia quando o pão era pouco
e a liberdade pequena?
Você sabe quem declarou: "meu sonho
é que nenhuma criança vá dormir com fome neste país"?
Você sabia que o sonho virou realidade?
Ai, mas hoje tem gente que exige prisão
para quem manteve erguida a bandeira da esperança
e que defendeu nosso time
no jogo contra a ganância do capital.
Quero erguer os meus versos contra essa injustiça:
meus filhos nunca haverão de me acusar de ingratidão,
eu sei reconhecer um herói pelo pulsar de seu coração.



terça-feira, 8 de março de 2016

Garimpagem

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Tem pessoas que vão a Minas
e não encontram ouro nenhum.
Eu andejei por lá, achei muitas jóias raras
e muitas delas de repente.
O ouro de Minas Gerais,
senhoras e senhores, é a sua gente.

Embrulho de chita

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Caiçara não cai à toa
de cima da canoa
só cai se Deus quiser
e mesmo assim vai dizer
que queria mesmo mergulhar
para catar uma concha de mil cores
pra oferecer como regalo
à dama com vestido de flores,
nos cabelos um laço de fita,
mais parecendo presente especial
(que até já vem em embrulho de chita)
e que a gente ganha só no natal.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Palavras disparadas

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As onças são uns bichos ignorantes
que não sabem que nós
somos os reis da criação
e andam por aí fazendo má-criação,
soltando urros adoidados,
que devem significar vou pegar e vou comer
e, só com os grito danados,
bota muita gente pra correr.
Mas eu não corro não,
se Rui Barbosa não corre,
eu também fico no chão,
que tenho uma viola
e uma reputação pra zelar,
se o pedaço de pinho quebrar
quem haverá de me sustentar?
Prefiro pegar da prosopopéia,
carrego na espingarda,
ponho uma bucha atochada
que tirei da página de um dicionário,
taco fogo na pederneira,
que faz um escarcéu,
e depois é só fazer o inventário:
o chumbo assombrou o mundo
e maior espanto se fez
quando as palavras da bucha,
a famosa bucha do dicionário,
se encarreiram direitinho,
formaram um poema
que leio pra quem acredita,
o resto não é meu problema.