domingo, 27 de abril de 2014

Poesia de Domingos dos Santos



Boitatá
Que fenômeno salta na rocha
e tremeluz feito tocha?
Que espécie de luzerna
corre sobre o mar
sem se apagar?
Que tipo de bicho
põe fogo no rabicho
só pra nos assustar?


Recados do vento leste

Às vezes o vento leste
traz aos nossos ouvidos
em permeio ao clamor
da arrebentação das ondas,
dos ruídos de refregas
de acontecidas batalhas navais,
das canções de marinheiros
de longitudes orientais,
cá para a América,
ecos distantes
das antigas vozes d’África.


Do progresso
Todo o dinheiro não compra,
toda  a técnica não monta,
toda a ciência não acrescenta
uma nota de melodia
à música do sabiá laranjeira,
um quinhão de conforto
à casa do joão de barro,
um pouco de beleza
à roupagem da saíra de sete lenços,
um tanto de graça
à elegância da garça.


Tempus fugit
Quem souber que dê notícias:
dos antigos leiteiros
que entregavam o leite
em garrafas de vidros
aos domicílios;
dos ceguinhos
e seus inseparáveis violões
fazendo escambo de músicas
por pouso e almoço;
dos mascates e suas malas
com cortes de panos,
tesouras de unhas
e  outros artigos
de primeira necessidade
para damas e cavalheiros
de fino trato.



Manuéis e Isabéis
Ai que saudade que dá,
do tempo em que a canoa
era o principal meio de transporte
e tocar a rabeca
era a suprema arte;
do tempo em que as tainhas
se alvoroçavam no mar
e os caiçaras benziam-se
ao sair para pescar;
do tempo em que as crianças
eram batizadas
de Antonios, Joaquins ou Manuéis,
Marias, Eugenias ou Isabéis.
Ai que saudade que dá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário