domingo, 27 de abril de 2014

Haikais de Domingos Santos













Imitação de Bashô

Março em início,
alegria no fim do dia:
chuva pula na rodovia.

Praia da Fortaleza:
tormenta serra abaixo
orações serra acima.

 Escoa uma galáxia
entre meus dedos:
no mar, ardentia.

 O povo caiçara
era metade terra
e metade mar.

 No mar, dia virou noite
e descrente em devoto
desde criancinha.

 Vaga-lume
perilâmpada
pirilampo

 Dia indeciso
entre nuvens e sóis.
Girassol ficou confuso.

 Chuva fina e fria
cai sobre as bananeiras
saudades de 30 anos atrás.

 Em Ubatuba,
litoral Norte do Estado,
o oceano é mais molhado.
  
Oceano misterioso,
pescador puxou a rede
veio um dia radioso.


Fim de carreira:
marinheiro de todos os mares
afoga-se em aguardente.

  
Entre o céu e o mar
o pingüim escolheu o pior:
o mar antártico.
  

Chuva na mata,
festa para as plantas,
pandemônio na cascata.

 Mar Virado.
Sob a tempestade
um oceano de paz.
  
Gota a gota:
filete, riacho, ribeiro,
rio, Rio de Janeiro.
  
Fim do acordo de paz
entre mar e terra:
ressaca.

 Serra recatada
sob espesso véu.
Nuvens do vento leste.
  
Noite com lua.
Luz no mar
oscilante vaga.

 Sol nascente em Ubatuba.
Mineradores de alvoradas
buscam ouro no mar.
  
Inquietações cordiais,
Três Corações
em Minas Gerais.

  
Onda barquinho,
ainda barquinho,
onde barquinho?

 Plutônicas flores
só de lírios
kananga do Japão.

 No meu jardim
colibris fazem a ponte aérea
entre hibiscos e magnólias.

 Musgos e beijos
à sombra das árvores
florescem rochas.
  
Fiat lux,
vagalume é parente
de estrela cadente.

 No rastro do vento
desfiam os dias
folhas arrastadas.

 Mata atlântica
peneira a luz do sol
e o colibri beija flor.

 Na mata atlântica
erguem-se as árvores
e palmas para o sol.

 Na nuvem que passa
passeia uma abelha
pela vidraça.

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