Reparem bem nas casas antigas:
como são bem construídas
com telhados centenários,
de madeira bem ajustadas
por grandes travas, pregos,
mais as teias das aranhas
feitas com muita paciência,
que justamente é o segredo
de tanta resistência.
Reparem bem nas casas antigas:
como são bem construídas
com telhados centenários,
de madeira bem ajustadas
por grandes travas, pregos,
mais as teias das aranhas
feitas com muita paciência,
que justamente é o segredo
de tanta resistência.
Vovó fazia um pirão tão bom
Com garoupa e coentro
Cujo cheiro subia
pela chaminé
E chegava até ao céu
Com tão agradável
odor
Que, Nosso Senhor,
cedo, para lá a
levou.
No começo não tinha estradas
e a gente ia aos lugares
por trilhas centenárias
feitas em primeiro lugar
pelos bichos que andam em carreira:
caititu, paca, tapir, formiga de correição…
A gente ia mais longe antigamente
porque viajava a pé.
Espio as nuvens arrastadas pelos ventos
que vão despejando chuva no mar,
como se estivessem regando um jardim.
E acho que por milagre brotam botos,
contentes toda a vida, aos saltos e trambolhões,
achando graça, salvo engano,
só porque a chuva está lavando o oceano.
Onde foi parar o
tamoio
que morava aqui?
Parte fugiu para o
norte
e parte continua nos
costumes,
nas técnicas de pesca
e de agricultura,
nos nomes das
plantas, de animais, de lugares
e no sangue dos
caiçaras.
Minha avó dizia: esse
curumim tá muito aíbo,
só come um cuí de
comida.
Quem for tupinambá
que entenda.
Quem vai continuar
a receitar
padre-nosso
e emplastro de
plumera
para machucados e
feridas?
Quem vai puxar a
novena
e o ponto de caramelo
para adoçar a vida?
Quem vai dar lições
de mistérios e
orações
em terços de capiá?
Quem vai abrir o véu
e explicar pra gente
sobre os assuntos do
céu?
Antes do Progresso
a simplicidade
estava em voga,
até as doenças
eram simples
e as pessoas sofriam
de quebranto,
defluxo,
dor nas cadeiras,
espinhela caída,
paixão recolhida,
e golpe de vento
era cama na certa.A estrada mais linda
que ligava minha casa ao mar
era rio abaixo na canoa de meu avô
que ia nos dizendo os nomes
das árvores, peixes, aves e,
de vez em quando, até poesia,
enquanto remava a canoa:
- "Olha, meu filho, borboleta é uma flor que voa."