No fundo do mar tem
tubarão-martelo, peixe serra,
tubarão-lixa, peixe-agulha etc.
Peixe-alicate não tem e nem faz falta,
porque as pinças do siri-patola
cortam fios de qualquer bitola.
tubarão-martelo, peixe serra,
tubarão-lixa, peixe-agulha etc.
Peixe-alicate não tem e nem faz falta,
porque as pinças do siri-patola
cortam fios de qualquer bitola.
tira o caranguejo-guaiá da toca.
Depois, é preciso agilidade para
apanhá-lo -
ou tomar um beliscão de sua potente
tenaz...
descole, se for capaz.
de bicho é no chão
e de pássaro é no ar.
Cada qual no seu elemento.
Só não avisaram ao peixe-voador
e ao esquilo-planador.
E onde é lugar de gente?
Pergunte a quem voa de balão,
asa-delta ou parapente.
Bola de futebol,
Caneta mágica para fazer lição,
carretéis de linhas de pipa,
escudo de time campeão.
coleção de figurinhas,
um boneco sem pé,
um pé sem boneco,
mas sem chulé.
bússola para achar o rumo certo,
cinto de mil utilidades,
caderno com os nomes
de mil e uma amizades.
mapa de tesouro,
avião para voar sem brevê
manual de dança indígena
para fazer chover.
mapa para se aventurar
e relógio quebrado -
mas que não impede, ai,
o tempo de passar.
Quem quer pescar
joga a isca no mar
e fica sossegado,
o peixe não pode assustar.
Quem quer pescar
não vai espadanar no mar
ou pesca, ou nada, nada,
coisinha engraçada,
como se África fosse ali
ao alcance de uma braçada.
Avis rara do mar e do ar,
começa a dançar igual tangará
pássaro que dança
quando quer cativar.
cativar, cativou em seguida
voou, voou por aí,
avis rara, essa canção é para ti.
do dia 24 de agosto de 2025,
em Ubatuba e redondezas
a primavera começou,
só porque o sabiá-laranjeira cantou.
Depois, o coral das aves começou
a cantar a animada sinfonia
para alertar toda a criação.
que é tempo de ressurreição
E para a alegria geral,
floresceu até a uvaia do quintal,
O
Tietê nasce na Serra do Mar
e, em vez de buscar o litoral,
corre para o interior.
O Tietê é rio teimoso,
igual pessoa que conheço,
que tendo quem a ame bem perto,
vai longe buscar outro amor.
Três etnias
de três continentes,
de culturas
e motivos diferentes,
marcaram encontro
no litoral do Brasil
e formaram o povo
caiçara.
De que praias de
Portugal?
De que sertões de
Pindorama?
De que aldeia Africana?
São Francisco interceda
pelo quati na árvore e no chão,
pela paca e suas paquitas,
pelo tatu na toca
e, em especial, pelo tatu fora da toca.
São Francisco abençoe
o ouriço-cacheiro e sua aspereza,
o caxinguelê e sua ligeireza
e, também, por seu xará,
Francisco Lopes, caiçara nato,
o popular
bicho-do-mato.
Deus abençoe
meu avô fazendo balaio,
minha avó torrando café,
Maneco Almiro
tocando rabeca,
Tia Aninha e suas flores.
Deus abençoe
a lembrança do sorriso
de Elisabete
no ano de 1976
ou foi 77?
Já sabemos que o ouro não se leva,
mas entra o relógio
que marcaram as boas lembranças,
herança de família.
Entram gente irradiando luz
direto do amor cultivado no coração,
pessoas que o mundo imaginava
vivendo na escuridão.
Também não entram roupas de luxo,
mas são aceitos trajes de casamentos,
roupas de batizados,
e os pés perdidos
de pares de calçados.
:
Bolas de gude,
carretéis de linha de pipa,
espada do Rei Artur,
cinto de mil utilidades,
bússola,
mapa de tesouro,
mágicas só para mandrakes,
avião para vôos transoceânicos
e incontáveis bricabraques.
É preciso ter juízo para saber
que o capim-melado
serve apenas de morada
para o bicho preá
e não se come com torrada.
Já o capim-santo
é santo de casa
que faz o milagre
de dar à gente nervosa
uma cara mais alegre.
E não se engane pelo nome
o capim arranha-gato
arranha gente também.
Aprendi na pele esse fato.
Já vi homem chorar
do cais do porto
até ao pronto-socorro
por causa do veneno do
mangangá.
Ai de quem o fisgar,
ai de quem se
equivocar,
ai de quem se espetar,
porque um dia é do
pescador
outro é do mangangá.
Festival de borboletas
nas flores de Tia Aninha,
o lamento da juriti
prenuncia a melancolia
à espreita no fim do dia
e no oratório
os Santos antigos
dão a impressão
que ainda sofrem muito
as flechadas no peito,
as dores da paixão,
as pedradas do vulgo,
a crucificação.
Dormem as gentes nas tarimbas,
dorme a rede no varal,
dormem as brasas sob as cinzas,
dorme a lenha no quintal,
dorme a cachaça na pipa,
dormem os bichos no curral.
A coruja é o vigia noturno
e dá o sinal de alerta,
uma sombra se esgueira
sob as bananeiras
em direção ao galinheiro,
bambus quebrados,
escarcéu de penas e brados,
galinhas, cães desatinados,
mais alto latiu a espingarda
e um facho foi aceso
para botar ordem na madrugada.
Nenhuma vítima
fora a paz perturbada.
Quando sai pra pescar,
pescador nenhum sabe
as dádivas que o mar dará.
Pode ser um exagero,
como aconteceu com o pescador da Praia Dura:
“Veio tanto peixe como nunca vi na vida.”
E naquele mesmo dia recebeu a visita
das meninas pobrezinhas
que buscavam água e pão,
em companhia de Nossa Senhora de Ubatuba,
a Santa do Sertão.
Uma vez por mês chegava o mascate
que abria seu baú para revelar
cortes de panos, fitas, lenços,
enfeites, roupinhas de crianças,
que toda mulher podia comprar
pela facilidade do crediário
na caderneta do libanês,
que todo mundo tratava por turco.
Um verdadeiro fenício
desempenhando seu ofício.
Os anjos costumam visitar
as capelas simplezinhas,
nas praias isoladas,
de paredes caiadas,
para encontrar seus iguais:
a menina de vestido de chita,
a senhora que fala sozinha
e as criancinhas que riem
com as piscadelas
que os anjos dão
somente para elas.
O que faz os padres
ralharem irritados,
espantando os anjinhos
que fogem assustados.
Quando as gaivotas se reúnem
e voltam para suas ilhas
é sinal que vai soprar a tormenta.
Quando os golfinhos se ajuntam,
desnorteados, à tona d'água,
é preciso procurar porto seguro.
Quando as formigas fazem correição
barranco acima,
é presságio de enxurrada e inundação.
E o que a gente faz quando os jornais
dão notícias de um irmão contra o outro
e de filhos contra os pais?
É bonito ver as árvores debruçadas sobre o mar
atirando ofertas às ondas
que as levam e trazem sob o influxo da maré.
Um bacupari para lá,
um miriguito para cá,
uma coroanha para lá,
um jamelão para cá,
uma lembrança para lá,
uma saudade para cá.
Meu tataravô era um mini fundiário
do atlântico,
dono de um centésimo
das praias de Ubatuba
e todas as manhãs
vistoriava
as garrafas de
náufragos,
estrelas do mar,
batuíras do lagamar,
guaruçá das areias,
as marcas das maresias
e as escamas das
sereias.
Poetas conseguem ouvir
os sons das ondas do
mar,
mesmo morando longe
demais -
tipo em Minas Gerais;
ouvem os passos dos
pássaros sobre o telhado,
a conversa do vento
com as folhas das árvores,
o som da vida da
cachoeira;
escutam até mesmo a
pulsação
do coração da
bananeira.
Quando
crescer, vou fazer uma casa
com fogão
a lenha com chapa de três bocas,
e uma
chaminé bem-comportada
que
expulsa toda a fumaça
e deixa
só um bocadim
para
fazer picumã contra o bicho-cupim.
aprendem a conhecer os
ventos,
deixa-os despentear os cabelos
e sussurrar nos
ouvidos
a previsão da
meteorologia.
“Hoje o tempo será
bom”,
é o que o vento diz todo
santo dia.
De cá, pertinho do céu,
vejo um pedaço do oceano,
vejo uma estrada de terra
que principia na praia
sobe morro e desce morro
e termina no mundo das pessoas
que vivem com os pés no chão
e que precisam reaprender
Um menino levado acertou uma pedrada
na casa dos
marimbondos no pé de laranjeira
e os insetos
furibundos, de raiva com o mundo,
ferroaram quem viram
pela frente.
Coitadinho do
narizinho da menina Maristela,
era tão bonitinho e
ficou uma batata,
uma batata rosada com
uma ferroada no meio,
uma ferroada de
marimbondo,
marimbondo
aperta-goela,
que quase morreu de
susto
com o berro de
Maristela.
Quando crescer,
quero uma casa pintada de cal,
com janelas e portas azuis.
No quintal haverá cafeeiros, bananeiras,
jabuticabeiras e, pelo menos um coqueiro,
para de longe acenar,
quando para casa eu retornar.
É bom morar perto da mata
para
receber toda manhã
lições
de esperança dos passarinhos de Deus:
ainda
bem cedinho, todos se põem a cantar.
e isso
é bom, pois como o Sol ia saber
que
está na hora de despertar?
a fé, firme, como convém, a alma, leve;
leve o coração, também.
O vento virou ventania, árvores começaram a se agitar,
roupas no varal passaram
a acenar,
parecendo que estavam se despedindo porque logo iam viajar
e a criança saiu para o quintal, começou a pular e a saltar,
para aproveitar o momento e levantar voo ao vento.
criança que canta, uma avozinha que ri
Minha casa tem cachorro que late, pão com manteiga, leite com chocolate,
balanço no quintal, jogo de futebol sem apito final.
Minha casa tem dança de pião e jogo de amarelinhas
onde se chega ao céu com linhas riscadas no chão.
Minha casa tem cachorro que late, pão com manteiga
leite com chocolate, Minha casa tem risos do meu bem.
Morava debaixo do assoalho
Da casa de meu bisavô
e para ele estava tudo bem,
- Onde tem lagartos, dizia
ele,
a cobra não vem.
As mamangavas faziam zumbidos
Iguais a um motorzinho
enquanto escavavam tocas
nas paredes da casa de meu bisavô,
que ria e perguntava:
- Me diga, menino, quem foi o inventor
do primeiro motor?
A criança sentada à
sombra de uma árvore
desejou ser um
cuitelinho
e seu desejo se
realizaria
se o cuitelinho que
por ali voava
desejasse ser uma
criança
à sombra de uma
árvore.
Dorme, menininho,
que o sol também já foi dormir
e levou consigo todas as cores do
mundo.
Dorme, menininho, dorme
que o vento já estendeu um cobertor
de nuvens espessas para aquecer
quem não tem onde se abrigar.
Dorme, menininho, dorme para o sonho acordar.
Bichano chegou quase
de noite,
entrou pela porta da cozinha
exigiu alimento, comeu,
deu uma olhada em volta
para ver se o perigo de cabelos castanhos
que costuma apertar, cutucar e puxar
estava por perto, ou seja, a Paulinha.
Negativo, ronronou de satisfação
e tomou o meu lugar no sofá
diante da televisão.