sábado, 26 de outubro de 2019
Brasil, olha a sua cara.
Quem bota fogo na mata
é igual quem joga lixo no rio;
que é igual quem aterra e mata o mangue;
que é igual quem derrama o sangue
de bicho, estranho, irmão, irmã;
que é igual quem derrama petróleo no mar;
que é igual quem dá agrotóxico para a terra beber;
que é igual quem faz Nossa Senhora chorar.
sábado, 19 de outubro de 2019
Pés descalços sobre a terra sagrada
Pela minha lei
os manguezais e os recifes são lugares sagrados,
pelo mesmo motivo que é sagrado
o ventre da mulher grávida.
Pela minha lei
ninguém pode matar a mata,
pelo mesma razão
que não se fere o próprio coração.
Pela minha lei
apenas os pés descalços podem ir à praia,
só porque, nos tempos juvenis,
foi assim que aprendi a ser feliz.
Tem uma lágrima no poema
Mais do que fazer versos,
eu quero que todos os corais,
caranguejos, moluscos e peixes
voltem ao universo
dos recifes e manguezais.
Eu quero ver os guaruçás de volta aos jundus,
quero ver as garças pescando nas lagunas,
tenho saudades das lagostas nos costões
e dos ventos a modelar as dunas.
Eu sei que canto a vida pretérita,
eu sei que canto o que já não existe,
Eu acredito na poesia,
só não acredito em bobagens,
como comover todos os corações
se nem têm almas os capitalistas selvagens?
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
Abram as portas
Despertar com o cheiro do café
feito por Vovó no fogão a lenha
ou acordar com a claridade do dia
que entrava por todas as frestas
das telhas feitas nas coxas
da casa de caiçara onde cresci?
Brincar de ser criança na areia da praia
ou voar com os pássaros em pensamento?
Jogar bola na areia rente ao mar
ou se fazer de peixe que fura
as ondas da Praia da Fortaleza?
Averiguar se tinha araçá docinho no quintal
ou espiar as jabuticabeiras
para ver se havia frutos maduros nelas?
Muitas eram as possibilidades para o futuro,
eu nasci em uma casa de muitas portas e janelas.
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Quintana e Suassuna no céu
Suassuna é um pândego,
Quintana, muito comedido;
o paraibano escreve como quem brinca
e o gaúcho burila palavras introspectivas;
Quintana tenta tocar a rabeca do nordeste,
e ri como quem ri por último;
Suassuna aperta os foles da gaita gaúcha
e ri no começo, meio e fim;
ambos sob as asas e o divertimento
do Anjo Serafim.
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Ouvidos atentos para a poesia
Uma vez um menino viu
uma casa de joão-de-barro sobre outra
e perguntou para sua mamãe
se eles já não se contentavam
em ter casas térreas.
De onde as crianças
tiram tanta poesias e ideias?
Telúrico
Sei da minha condição telúrica,
mas muitas vezes eu fico tão tontinho
que até dá vontade de cair fora...
Mas também com esse planeta
rodando em volta do próprio eixo
à velocidade de 1700 km por hora!
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
O pescador Zé Almiro
Na rede de tresmalhos
tresmalhou uma cambeba
daquelas brabas
que espadanou, saltou e fugiu.
A rede ficou lá toda estragada,
da cambeba ficou só o suspiro
Mãe do céu, cada coisa acontece
com a rede do Zé Almiro
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