quinta-feira, 30 de novembro de 2017
A primeira vez que o menino voou
Menino era ainda pequeno e estava doentinho,
então desejou voar e voou,
igualzinho voa o pássaro carapirá.
Do alto viu o tamanho do mundo,
uma maravilha,
com as terras se desdobrando em outras terras
e o mar se perdendo sem acabar
até ao horizonte onde some.
Mãe então o chamou para comer banana assada
e findou o voo na vertigem da fome.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Quando eu vivia no meio natural
Este que está na sua presença não sou eu,
este sujeito de calças, camisa social, o escambau,
passando calor no país tropical,
pagando o pecado de Pai Adão
e perdido em meio à civilização, não sou eu.
Minha alma está no meio do mato
prestando atenção na arenga dos pássaros
para saber onde tem cambucá maduro,
araçá amarela, bacupari e ai!, o cambuci.
sábado, 18 de novembro de 2017
Matéria-prima
Tem gente que ajunta postais,
outros guardam fotografias,
eu coleciono histórias
para fabricar poesias.
A casa do artista
No bairro mais colorido,
na rua mais alegre,
na casa que mais parece
que saiu do reino de Renoir,
mora o pintor Vicente,
que veio migrante
com a missão de colorir o Brasil,
e, até o presente momento,
meia tarefa ele já cumpriu.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
Sonhos siderais
O planeta gira em volta do Sol,
que gira em torno da galáxia,
que gira solta no universo,
que também gira, gira, gira
desde que foi sonhado,
porque nem tudo que existe
teve que ser criado.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
Sondando o tamanho do nada
Fui dar uma espiadinha
no começo dos tempos
e não gostei do vi,
não tinha tempo nenhum lá.
Fui checar como começou
a criação do espaço,
e o espaço não existia.
Fiquei tomado de angústia,
igual criança que, de repente,
se perde da família.
sábado, 4 de novembro de 2017
Canção para Ubatuba
Alô, lugar onde eu nasci,
quantas saudades eu estava
das matas que descem da serra
como uma onda verde sobre o mar,
das cachoeiras das nascentes entre as nuvens
que trazem lá do céu algo que acalma
e cura as dores da alma.
Ai, que vontade de mergulhar
nas águas do presente
e emergir no tempo dos caiçaras
donos do lugar,
com a restinga de casas simples,
com ranchos de canoas ao lado,
varais para estender as redes de pesca,
jiraus de secar peixes,
as crianças brincando nos quintais
e os anjos da guarda sossegados,
porque no meio dos guris
quem mais se diverte é o menino Jesus.
Flores no jardim de Deus
No meio da boniteza da mata
é comum encontrar canteiros naturais
de lírios-do-brejo
ou de mariquinhas-da-serra
com uma ou outra flor
carregada pelo vento
ou será borboleta?
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Dê-me sua mão
A vida é uma aventura
que se desdobra em vários atos
que avançam por muitos caminhos
e nenhum deles foi feito
para desbravarmos sozinhos.
Paisagens se sucedem,
experiências, gostos e rostos
enriquecem a memória
e a idade traz a certeza
que o sal de viver será mais apreciado
quanto mais compartilhado.
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
Arte para viver
Um viva para o artista
que trabalha em ofício
de cultivar o chão,
ou de peão de gado,
ou de operário em construção,
com um violão na cabeceira da cama,
que é ponteado à noite e fins de semanas,
apresenta-se em porta de bar,
ou em dança em roda de quintal,
com notas tiradas nas cordas e no tampo,
temperadas por cerveja e cachaça
até entortar os ritmos
subverter as melodias,
fazendo mais claras as noites,
tornando mais alegres os dias.
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