segunda-feira, 27 de abril de 2015

Lição de voo

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Bailarina, você é uma graça,
dance, estude a dança e dance mais,
até alcançar a perfeição da garça
quando se lança ao ar e bate as asas
com muita leveza e elegância
até dominar as atenções de todo o Céu,
enquanto, cá na Terra,
surpreendo você admirando essa beleza
e eu a admiro por isso, bailarina,
voar está na sua natureza.

Tempo dos mistérios

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A lâmpada elétrica chegou na minha terra no ano de 1976
e espantou os vultos, os sustos, as sombras
os abantesmas que povoavam as penumbras
das velas dos castiçais e lampiões a gás,
findou com os arrepios dos espaços sombrios,
o calor dos mistérios arrefeceu
e só faltou iluminar bem os recantos das almas:
dentro de mim ainda resta um pouco de breu.

Tamanduá manda um abraço

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Ai, como faz falta
a biodiversidade que têm na mata
e nos sertões dos Brasis,
isso sem considerar
o cheiro da gambá,
o ninho da mamangava,
as garras do carcará,
os chifres do boi caracu,
a picada do besouro,
a unha do tatu,
o abraço do tamanduá,
o dente da piranha,
o bafo da onça,
a corrida da ariranha…

Licença para fazer poesias

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Não se admire de eu fazer versos,
de construir castelos nas nuvens,
rimar aglio e olio,
desdenhar o mapa do tesouro
com uma fortuna em chaves de ouro,
casar o mar com a serra,
construir uma nave de letras
para escapar da dureza da terra,
trocar a noite pelo dia,
pensar com ritmo e melodia,
dividir o coração
em partes bem equilibradas
para as pessoas amadas,
fazer soneto um dia, noutro perder a métrica,
inventar o que esqueci e esquecer o que machuca:
pra tudo isso tenho licença poética.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Outono

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Em lugares mais frios
as folhas das árvores caem no outono
e as pessoas se preparam para o inverno.
Aqui, na terra tropicália,
no país da vegetação perene,
o outono não nos dá nenhum aviso
e o inverno chega de mansinho,
mas deixa sua marca do mesmo jeito:
Já tenho neve nos cabelos.

Mineração da felicidade

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Procurar felicidade é igual fazer mineração,
no começo a gente nada acha
porque descarta pedra preciosa
sem saber que devidamente lapidada
mostrará o quanto é valiosa.
Depois, com a prática,
a gente acha momentos felizes
até pelos cantos da própria casa:
uma mulher que sorri de uma piada,
criança inventando brincadeiras,
o aroma do café acabado de coar,
um beijo no cangote,
a promessa de romance no ar…

Os reis do mundo

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Nem os reis da península ibérica,
nem o presidente dos E.U. da América,
têm as prerrogativas de uma criança,
que, por direito consuetudinário,
quando tem vontade de fazer xixi,
sem outra solução, pode aliviar-se na calçada
e sua reputação continuará ilibada.

Poema pra gente grande

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Se aventurar é perigoso,
quando não é paixão cegante,
é alma ferida,
é infarto fulminante,
é desvario suicida.
Ir além dos limites é perigoso,
quando a corda não arrebenta,
é a pressão alta,
é a rede que fura,
é o fôlego que falta.
Viver é perigoso,
quando não é carro desgovernado,
é bala perdida,
é golpe de estado,
é instinto homicida.
Porém, perigo maior não há
do que não viver a vida.

sábado, 18 de abril de 2015

Em busca da terra sem males

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Além do horizonte, ó povo guarani,
na direção de onde nasce o sol,
onde as terras altas descambam para o mar,
não falta peixe para o pirão,
não falta parceria pra acabar com a solidão
e os rios trazem vida para a terra
ao brotarem do coração da serra.
Os anciãos são sábios,
as crianças são donas dos quintais sem muros,
pajés e poetas têm o dom de sonhar
e transformar os sonhos em profecias e poesias.

Tempo de emergir

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Ei, mergulhador das profundezas,
não vá muito fundo,
volte à tona, venha respirar,
o mundo não está tão ruim assim,
ainda há um lugar pra você,
se não se importar com uma casa simples,
um prato de arroz com feijão
e um abraço de irmão
que também já mergulhou nas águas escuras
e que só voltou à superfície
com o hausto de inesperadas ternuras.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Retorno

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Adeus, meus amigos,
vou voltar às origens,
vou voltar a ser do mar,
vou deixar de tropeçar nas pedras,
não vou mais respirar poeira,
vou escapar da violência,
eu vou deixar a terra,
vou de livre consciência,
eu vou viver no balanço do mar,
trocando as pernas igual bebum
para me equilibrar
quando a onda grande passar.

Canto de saudades

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A vida trouxe-nos do interior,
pinchou-nos nas cidades,
nos acumulou de responsabilidades
e nem percebemos a carga pesada
que fomos obrigados a carregar:
estudar, trabalhar, sustentar a família,
comprar computador, celular, tv…
cuja função é nos entreter
para a gente não lembrar
que dentro do peito bate um coração
querendo voltar para o sertão.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Sonho bom

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Meu amor está dormindo
e está sonhando um sonho bom
pois sorri lindamente
e, se bem a conheço,
sonha com crianças de antigamente
que brincam em terreiros sem muros,
que sobem em árvores,
que dançam ciranda,
que banham-se no rio
e gritam, riem, correm, misturam-se,
crianças de todas as idades.
Ah, queria tanto que seu sonho
voltasse a ser realidade.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Me dá a honra da contradança?

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Vamos dançar e rodopiar,
depois vamos parar,
e será a vez de tudo girar,
quem estava longe
aparecerá ao lado,
o que era impossível
agora é admissível,
não haverá amada distante
e todo amor será presente.
Vamos revolucionar,
meu bem, vamos dançar?

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Coração fundeado

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Não tem mandinga,
não tem mundéu,
não tem pedido,
não tem escarcéu,
que eu sou pescador,
que eu sou menos terra
que eu sou mais mar…
Pode me beijar, Maria,
mas aviso desde já
que meu coração tá fundeado na baía,
na Baía de Ubatuba,
e não há jeito de içá-lo,
que eu sou  mais mar
e de pouca terra,
minha vida é navegar.

Senhor bananeira

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Chega uma hora
que é preciso criar raízes,
criar uma família,
arranjar trabalho,
cultivar amizades
e arrumar um tempo
pra fazer arte,
porque a vida fica mais leve
entremeada de brincadeiras.
E depois que a poeira baixar
quero ser igual Matsuo Bashô
e morar debaixo das bananeiras.

sábado, 4 de abril de 2015

Onde o vento faz a curva

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Com licença que tenho que ir
até onde o vento faz a curva
pra tirar o cavalo da chuva.

Notícias dos amigos

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Nesta manhã de sábado
fico pensando nos meus amigos
e o que eles estão fazendo:
Ricola deve estar pastoreando abelhas,
mas sempre de olho no mel das palavras;
Moacyr Pinto dedica-se à atividade
de procurar novos artistas na periferia da cidade;
Joka está cavando livros na biblioteca pública,
com esperança de achar um tesouro
perdido entre os alfarrábios;
Sanjo Muchanga, do Reino de Moçambique,
com seis horas de vantagem,
já colheu seu quinhão de poesia
e, no momento, está em viagem
para o outro lado do dia;
Elizabeth de Souza
está pondo ordem nas coisas:
um poema perdido,
um conto de amor,
um imagem pra cá,
uma palavra pra lá…

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Pulando do trem da vida

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Ieieca, Bambá, Rogé,
Sapato-Branco, o cego Doquinha…
Pessoas que pularam do trem da vida,
que tudo e a todos atropela ou ultrapassa,
e estão, acho que no céu, gastando um dedo de prosa,
enquanto bebem uma dosinha de cachaça.

Cotidiano

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- Bom dia, Seu Yoyo!
E o velho açougueiro sorria
enquanto eternamente afiava
a faca de cortar bons bifes.
- Bom dia, Miss Goiaba!
Mas Miss Goiaba não sorria
porque seu nome era outro,
que me fugiu da memória,
porque não chegava às alturas
da boniteza do nome Miss Goiaba,
que vendia frutas e verduras.