quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo

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Que 2015 as pessoas encarem o desafio
de disparar menos ofensas,
palavrões e balas perdidas
que podem acertar,
principalmente, as pessoas queridas.
E que passem a mirar o coração do próximo
com palavras de elogios, de incentivos,
de declarações de amor e mil outros motivos
para eu não ter receios de desejar
que no ano novo
cada um colha o que plantar.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Perigo na pista

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Motoristas imprudentes,
pedestres distraídos,
alcoólicos no volante,
muita atenção:
as fraturas expostas
deixam à mostra
os estragos no coração.

Lição de gramática

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Cuidado com os homófonos:
a dor do ouvido prejudica a audição,
mas a dor do olvido,
ah, a triste dor do olvido...
essa afeta o coração!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal

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Jesus bebê podia ter nascido em uma maternidade,
no silêncio e conforto de um quarto,
mas como ter a solidariedade dos pobrezinhos pastores,
o calor da presença dos animais
e o coro dos anjos louvando a Deus
em ritmo de canção de ninar?
Desde seu nascimento ficou claro
que Jesus veio para unir o Céu e a Terra,
o material com o espiritual,
a transitoriedade com a eternidade.
Desde o começo deixou o exemplo
de consideração com todas as criaturas.
Glória a Deus nas alturas!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Atenuantes

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Sim, eu colhi uma flor do jardim público
para enfeitar seus cabelos
e a tirei pra dançar
ao som de um artista de rua.
Sim, eu fiz isso diante de desconhecidos,
mas veja a tarde, ouça a música,
sinta a primavera…

Fechado para balanço

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Pisamos de novo a mesma praia
do tempo em que você cursava teatro,
e eu estudava você.
Você querendo dar lição de voo às gaivotas,
eu repetindo o que aprendi dos tupinambás.
Foi o tempo em que
ocupamos juntos um lugar no espaço
e escrevemos na areia um poema em comum.
Pena que o mar o achou muito bonito
mandou uma onda e o levou para si.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Feliz Natal

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No dia de Natal um jovem estudante
sem dinheiro para ir para casa
e celebrar a data com a família
entrou na catedral da Sé
para espiar o presépio
e ver se o menino Jesus
estava bem acomodado.
Papai, Mamãe, ovelhas, vaquinha,
pastores, anjos e arcanjos
cercavam o recém-nascido por todos os lados
e no altar São Paulo Evaristo Arns
explicava o destino do Santo Menino.
Foi o bastante para o estudante se comover,
sacar de sua bolsa e entregar a um mendigo
a Geomorfologia de Aziz Ab’Saber.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Feliz Natal

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José e Maria batem à porta
pedindo um lugar para pernoitar
nos corações e casas que se fecham.
Ah, se soubessem que o Menino
que está pra nascer dominará a ciência
de acender as estrelas,
brincará no carrossel das galáxias,
e saltará a janela que tem no fim da imensidade
da nossa bolha cósmica,
só para brincar no quintal da eternidade…

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

No coração do Brasil




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O Rio Juruá tem tantos meandros,
tantos volteios e reviravoltas,
que cheguei ao fim da viagem
mais tonto que o normal:
troquei de bagagem,
tomei café com bobagem,
beijei a mulher do capitão,
 tomei um safanão,

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Parcerias

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Pescar com rede,
barrear uma casa,
fornear farinha,
dançar o rastapé,
amanhar a terra,
fazer um churrasco,
tirar música do pinho,
tecer a vida
não dá pra fazer sozinho.
Criar os filhos,
remar a canoa,
construir uma ponte,
unir os opostos,
enfrentar perigos
e fazer o impossível,
viver é verbo coletivo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Da arte de fazer amigos

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O bom de sair lá fora e viver
é que fazemos amizades,
às vezes de maneira inesperada.
Dia desses paguei o conserto
de um pneu de bicicleta
para um menino sem um tostão no bolso,
peguei no colo uma criança
para ajudar uma mãe com muitas sacolas
e poucos braços,
dei uns trocados para um bêbado
comprar um lanche -
pelo menos foi essa a sua justificativa -
e quando retornei pra casa
ainda que mais pobre, me achei mais rico.

Vida de aventuras

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Eu bem que gostaria de viver de boa
em contato com a natureza
lá no Sertão dos Souzas,
bebendo água da Serra,
trabalhando no tempo bão,
e no tempo de chuva
ponteando um violão.
Enquanto não chega essa oportunidade
não tenho outra opção
senão levar a vida perigosamente
ao cruzar avenidas movimentadas,
consumir agrotóxicos nas saladas,
ser fumante passivo,
trabalhar em escola e
comer croquete de rodoviária
acompanhado de coca-cola.

sábado, 15 de novembro de 2014

Semeando nas nuvens

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Meus avôs plantavam na terra e colhiam no mar,
eu vivo de semear poemas nas ondas hertzianas
para que brotem na seção lírica da nuvem cibernética,
e que ao serem colhidos de São Roque a Nova Iorque,
de Hortolândia a Groenlândia, de Quiririm a Pequim,
acolham por lá, também, um pedaço de mim.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Voo livre

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As pessoas que se atiram das alturas
Em voo livre, paraglider e bungee-jump
São pássaros de asas podadas
Tentando reconquistar os ares
a partir de lembranças de vidas aladas
Ou anjos caídos tentando reerguer-se
E recuperar uma centelha de divindade
em sua humana fragilidade?
obs: imagem de S. José de Cupertino, o Santo que voava.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cadê a mata atântica que estava aqui?

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Os homens vieram com machado e fogo,
botaram a mata abaixo,
queimaram até a beirada do rio,
e assustaram a boniteza do mundo
e agora é preciso muito caminhar
pra ver e ouvir os ventos nas árvores,
todas as cores do verde,
as mil raças de passarim
e as águas que cantam nas cachoeiras
uma nostalgia sem fim.

sábado, 8 de novembro de 2014

Diga-me o que tu lês e eu te direi quem és.


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Jorge Luis Borges, enquanto teve olhos, leu de tudo.
Depois tratou de arranjar quem lesse por ele
e passou a pedir leituras que não cabem em livros.
Com frequência pedia que fosse lido
as cores do céu, o estado das almas,
o comportamento dos pássaros,
os jogos infantis, a aparência dos passantes…
Ou seja, de todas as leituras,
ele passou a escolher as mais importantes.

sábado, 1 de novembro de 2014

Pátria amada

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Pode vir dono de milhões,
pode vir cantilena de sereia,
que não vendo minha casinha,
não largo o macio da areia,
não deixo meu ranchinho de canoa,
pois sou garoupa entocada,
sou craca na pedra,
sou parceiro de São Pedro,
sou batizado no mar,
conheço o mundo das águas,
sei ler o tempo no livro do céu,
sei correr canoa no pano,
nasci na terra firme,
mas minha pátria é o oceano.

sábado, 25 de outubro de 2014

Atentado humanista

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Dona Jane tinha quase nada
para o almoço daquele dia,
então alguém bateu na porta,
ela foi espiar,
viu um pacote de alimentos
e um vulto dobrando a esquina,
como se estivesse fugindo
de um atentado humanista.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Gastronomia caiçara


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Peixe assado, peixe frito,
peixe ensopado, pirão de peixe
de segunda-feira a domingo.
E, em datas especiais,
galinha ou pato,
como aconteceu no dia da visita
de um doutor de S. Paulo,
que, sem nenhuma delicadeza,
provou só um pedacinho da mistura
e disse que, em casa de pescador,
esperava peixe na mesa.

Aconteceu, virou poesia

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O reino de Tia Aninha
ia do morro até à praia,
das matas até ao bananal,
das grotas cavadas pelo rio
até à areia da restinga
e seu castelo de tijolos coloridos,
cada um de uma cor,
era devidamente protegido
por canteiros de flores bem cuidadas
e uma imagem de Nosso Senhor na Cruz
pendurada na porta da frente.
- Por que, Tia Aninha?
- Para afastar fariseus
que querem confundir a gente.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Um minuto para meia-noite

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Um menino chegou pro seu avô
e, à queima-roupa, perguntou
se o velho gostaria de ir pra guerra
igual à que passou na TV,
no outro lado da Terra.
- Não, cruz-credo,
em guerras tem muitas balas perdidas
e mais um monte de balas bem encaminhadas,
que não são de festim,
que um assassino dos infernos
dispararia direto em mim.
Se bem que morrer é o de menos,
matar gente é pior,
matadores são riscados
dos livros da parentela
de Jesus, Nosso Senhor.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Poeminha à beira de um ataque de nervos






Bichos zumbidores que vêm pelos ares
dos fundos dos brejos
para fazer sinfonia nas orelhas da gente
até a paciência esgotar.
São eles os coleópteros, himenópteros,
lepidópteros, helicópteros e outros insetos.
Um dia eu mudo deste lugar.

domingo, 5 de outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Andantes

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Tem gente que corta a própria raiz
que a liga ao lugar e à família
em que nasceu
e se perde pelo mundo.
Alguns são refugiados de guerras
(nem todas aparecem nos livros de história,
tal qual a batalha contra moinhos de ventos,
de todas as lutas a mais inglória).
Outros, por necessidade,
tem que se distanciar
e acabam confundindo os horizontes
para nunca mais voltar.
Andam eles pelas estradas,
sem causas para abraçarem,
sem raízes, sem famílias,
sem memórias para relembrarem
(o que era perdeu-se na poeira da estrada,
o que vem renova-se a todo instante).
Haverá pior sina no mundo
do que ser uma pessoa errante?

domingo, 28 de setembro de 2014

28/09/2014

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O dia amanheceu nublado
com previsão de chuvas
e pensei que o mundo despertaria mais tarde
nesta manhã de domingo.
Mas, exatamente às 5h26min,
todos os pássaros da mata atlântica,
(identifiquei alguns transgressores:
tié, corruíra, tiziu, sabiá)
desandaram a piar, trinar, pipilar,
gorjear, assoviar sem dó
de quem dormiu pouco.
Mesmo em dia de descanso
vale a pena acordar
com esses despertadores do mundo natural
que, creio eu, ainda vão acabar revertendo
o fluxo do êxodo rural.
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sábado, 27 de setembro de 2014

Sinais

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A gente sabe que a primavera está para chegar
quando os ipês explodem exagerados
em cores que não existem
em nenhuma caixa de lápis,
quando as mulheres começam a exibir
o mais belos ramalhetes
de flores nas vestes e nos enfeites
e quando o sabiá começa a assoviar
melodias que os arcanjos cantaram
somente para os ouvidos
de Johann Sebastian Bach.


domingo, 21 de setembro de 2014

Pescador

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Há toda uma herança de sabedorias
e mais a prática do dia-a-dia
na escola do pescador até aprender
a ler no céu o que vai acontecer
com o tempo que ainda não mudou,
a espiar as correntes marinhas
atrás do pescado que se ocultou
e saber que peixe mordeu a isca
e aquele que escapou.
Frequentei pouco essa escola
por motivo de mudanças,
restou-me ser, então,
um pescador de lembranças.

sábado, 20 de setembro de 2014

Rogé


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Rogé Mesquita
vendia sardinha,
bebia cachaça,
comia farinha,
fazia graça,
cantava modinha,
não tinha morada
nem namorada.
Atravessou incólume
Muito trecho de mar
e acabou naufragado
na porta de um bar.

domingo, 14 de setembro de 2014

Mar nosso


                A casa de meus avós navegava

                em um mar de bananeiras,

                cuja chaminé

                soltava rolos de fumaça

                com cheiro de pirão de peixe.

                A casa de meus avós

                era uma embarcação

                no oceano do bananal,

                só percebida pela bandeira

                do padroeiro São João

                no mastro principal.

                A casa de meus avós era um barco

                cercado de bananeiras

                por todos os lados,

                que quase ia a pique

                em tempo de moção,

                sob as vagas das folhagens

                em furiosa agitação.

sábado, 13 de setembro de 2014

Lição de generosidade


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Sou muito grato ao tarumã, manacá,
caroba, brejaúva, embaúba, cubatã,
e outras tantas árvores
que deram aos meus antepassados
suas cascas, troncos e frutos
em remédios, casas, canoas e alimentos.
Velhas amigas também dos pássaros,
caxinguelês, micos e bromélias
que nelas tem abrigo e sustento.
Que fazem sombra sobre esta pedra
e me protege do sol,
compreensivelmente ardendo mais que o normal,
indignado com a humanidade
que nem aprende com as árvores
as lições de generosidade.

sábado, 6 de setembro de 2014

Poema tristinho

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Seu Roque da Praia da Caçandoca
foi ao doutor juiz
e disse que não sabia ler,
mas sabia falar
e que sua língua
dizia só a verdade
e que não se fiava em papel
que aceita qualquer mentira.
O bom era assim
falar frente a frente
para o doutor juiz
interrogar suas palavras,
sua boca,
seus olhos
e seus modos.
Que a terra sempre foi sua
e que sendo analfabeto
foi ludibriado,
enganado,
tapeado
para pôr o dedão
na autorização
para abrir a estrada
para melhorar o transporte
das bananas,
das pessoas,
dos pescados
e tomaram toda sua terra
de não ter onde cair morto.
O doutor juiz não teve dó
e decidiu que,
mesmo para analfabeto,
vale o que está escrito.

domingo, 24 de agosto de 2014

Meu Deus, me dê







Uma mulher de gênio bom
que cuide do feijão e arroz
e deixe comigo o pirão,
uma roça de mandioca
pra ter sempre
farinha na barrica,
uma rede de tresmalho,
uma canoa caiçara,
um pesqueiro secreto,
uma viola pra pontear
e a bênção de São Pedro
para poder viver do mar.

O tesouro da Serra do Mar





Lusos,
Corsários
E grileiros,
Pela violência
Tomaram a terra
E tentaram descobrir
O segredo do tesouro dos caiçaras
Que só será revelado
Para quem gostar
Dos ruídos e piados
De bichos e pássaros,
De cheiro de mato
E de água cristalina
A murmurar no regato.