sábado, 25 de outubro de 2014

Atentado humanista

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Dona Jane tinha quase nada
para o almoço daquele dia,
então alguém bateu na porta,
ela foi espiar,
viu um pacote de alimentos
e um vulto dobrando a esquina,
como se estivesse fugindo
de um atentado humanista.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Gastronomia caiçara


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Peixe assado, peixe frito,
peixe ensopado, pirão de peixe
de segunda-feira a domingo.
E, em datas especiais,
galinha ou pato,
como aconteceu no dia da visita
de um doutor de S. Paulo,
que, sem nenhuma delicadeza,
provou só um pedacinho da mistura
e disse que, em casa de pescador,
esperava peixe na mesa.

Aconteceu, virou poesia

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O reino de Tia Aninha
ia do morro até à praia,
das matas até ao bananal,
das grotas cavadas pelo rio
até à areia da restinga
e seu castelo de tijolos coloridos,
cada um de uma cor,
era devidamente protegido
por canteiros de flores bem cuidadas
e uma imagem de Nosso Senhor na Cruz
pendurada na porta da frente.
- Por que, Tia Aninha?
- Para afastar fariseus
que querem confundir a gente.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Um minuto para meia-noite

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Um menino chegou pro seu avô
e, à queima-roupa, perguntou
se o velho gostaria de ir pra guerra
igual à que passou na TV,
no outro lado da Terra.
- Não, cruz-credo,
em guerras tem muitas balas perdidas
e mais um monte de balas bem encaminhadas,
que não são de festim,
que um assassino dos infernos
dispararia direto em mim.
Se bem que morrer é o de menos,
matar gente é pior,
matadores são riscados
dos livros da parentela
de Jesus, Nosso Senhor.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Poeminha à beira de um ataque de nervos






Bichos zumbidores que vêm pelos ares
dos fundos dos brejos
para fazer sinfonia nas orelhas da gente
até a paciência esgotar.
São eles os coleópteros, himenópteros,
lepidópteros, helicópteros e outros insetos.
Um dia eu mudo deste lugar.

domingo, 5 de outubro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Andantes

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Tem gente que corta a própria raiz
que a liga ao lugar e à família
em que nasceu
e se perde pelo mundo.
Alguns são refugiados de guerras
(nem todas aparecem nos livros de história,
tal qual a batalha contra moinhos de ventos,
de todas as lutas a mais inglória).
Outros, por necessidade,
tem que se distanciar
e acabam confundindo os horizontes
para nunca mais voltar.
Andam eles pelas estradas,
sem causas para abraçarem,
sem raízes, sem famílias,
sem memórias para relembrarem
(o que era perdeu-se na poeira da estrada,
o que vem renova-se a todo instante).
Haverá pior sina no mundo
do que ser uma pessoa errante?