domingo, 29 de junho de 2014

Eh, eh, eh, existência







Estudar o que o mar
tem a ensinar e aprender
os nomes dos seres
dos haveres
e de outras riquezas
dos rasos
e profundezas.
Eh, eh, eh, enguia, enguiá,
que é preciso ser amigo do mar.

Mergulhar até virar anfíbio
e familiarizar-se
com os quelônios,
equinodermos,
moluscos,
crustáceos
e outros peixes.
eh, eh, eh, emborê,
por favor não nos deixes.

Envolver-se até tornar-se
caiçara,
pescador,
profissional
ou amador,
suas histórias,
cantorias
e no lanço da rede
pescar até poesias.
Eh, eh, eh, espadarte
que viver é uma arte.



Parceira do Criador


D. Eugênia

No piemonte da Serra da Fortaleza
há uma casa antiga
pintada de azul e branco
e cercada de flores
dos quatro cantos do mundo,
mais algumas do paraíso
(refiro-me às rosas de Nossa Senhora),
que foram parar,
não se sabe quando,
não se sabe como,
às mãos de Dona Eugênia
que plantou e transplantou,
até ter um pedacinho do Céu
todo seu,
de enternecer e tornar crente
até coração ateu.

sábado, 28 de junho de 2014

Tio Maneco


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Quem vê cara não vê coração,
tristezas ou alegrias,
regozijo ou aflição.
Muita gente passou
por um velhinho com um olhar gaiato
nas praças de Ubatuba
sem notar que era o famoso Maneco Almiro,
mestre da rabeca,
fogueteiro entusiástico
e semeador de alegria,
que igual às cigarras
se finou em cantoria.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O marinheiro Benedito

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O marinheiro Benedito sempre foi exagerado
para pescar, beber, viver e até para adoecer
e acabou perdendo uma perna
por problemas de circulação arterial.
E por muito tempo e mais algumas semanas
ficou fundeado no nosocômio
até voltar a deambular
apoiado em muletas.
Das muletas passou
para uma perna artificial
e depois para uma perna de pau,
devidamente torneada
na Marcenaria Malaquias.
Dava gosto vê-lo impressionar os turistas
e as crianças em volta com admiração:
- Como foi, Sr. Pirata, que perdeu sua perna?
E ele respondia sem ficar corado:
- Foi o danado de um tubarão!
E o gracejo dito por brincadeira,
por ser uma história mais bonita,
se tornou a versão verdadeira.


Dono do próprio nariz

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Sou senhor do meu nariz,
mas não das 7 às 17 horas,
quando minhas horas são vendidas
a troco de salário para o patrão.
Após isso, até às 21 horas,
minhas horas são da família,
tipo pegar filho na escola,
fazer compras,
ajudar nos serviços caseiros.
Após todo um dia cheio,
as horas restantes são do sono
pra recuperar as energias,
acordar às 6 da manhã
e recomeçar o trabalho de Sísifo.
E os momentos para viver
a gente vai praticando nos intervalos,
com um carinho aqui,
um momento pra rezar,
o almoço com amigos,
uma poesia acolá.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Carta

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Cara Elizabeth,
Quando eu nasci
o mundo era mais vasto
ou a população mundial era menor?
Os espaços eram maiores,
as casas eram mais isoladas,
mas, paradoxalmente,
havia mais calor humano
e mais solidariedade.
Havia, por exemplo, mutirões
para construir casas,
ajudar nas colheitas
ou erguer capelas.
Parentes e amigos se visitavam,
benzedeiras faziam orações pelos doentes
e parteiras auxiliavam as gestantes.
Hoje já somos mais de 7 bilhões de pessoas,
a maioria morando em cidades grandes,
em prédios e bairros adensados,
muito próximos uns dos outros,
mas uns dos outros ignorados
porque ficou perigoso sair de casa.
Há muita violência gratuita,
palavras e gestos hostis,
principalmente na cidade.
Ou seja, no meio urbano falta urbanidade.
Em um mundo que ficou muito complexo
ainda cabe a poesia?
Um respeitoso ósculo e um forte amplexo.

domingo, 15 de junho de 2014

Procurai-o enquanto se pode achar

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Por um indefinível apelo atávico,
uma sensação de incompletude
e de não conformismo com as respostas
muita gente sobe os picos das montanhas,
outros mergulham nas profundezas do mar,
ou se aventuram a caminhar pelas trilhas,
ou a saltar dos aviões direto para o céu.
Outros nem sabem aonde levam os passos seus
em busca do quê ou de quem? Meu Deus!

sábado, 14 de junho de 2014

Ruínas da Lagoinha


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Pedaços de paredes e
restos de alicerces
deixam em suspenso
as formas das casas,
a aparência dos rostos
e histórias de dramas
ou, quiçá, de amores
que foram herdados
pelas árvores e lianas
que os abraçam bem apertados.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Casa caiçara


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É impossível comprar
Uma casa de pescador
Com alicerces de pedras
Paredes brancas
Janelas azuis
E fogão a lenha
Porque casa antiga tem alma
E a alma foi embora
Junto com o caiçara.