A casa mais feliz do mundo
tem ursinhos de pelúcia,
bolas de futebol,
balanço no quintal,
criança que grita,
um monte de gibi,
uma avozinha que ri,
cachorro que late,
pão com manteiga
e leite com chocolate.
A casa mais feliz do mundo
tem ursinhos de pelúcia,
bolas de futebol,
balanço no quintal,
criança que grita,
um monte de gibi,
uma avozinha que ri,
cachorro que late,
pão com manteiga
e leite com chocolate.
A fedentina do fascismo está contaminando as pessoas
na Argentina, EUA, Alemanha, Brasil...
bomba do fim do mundo explode na Ucrânia,
tambores de guerra ecoam na Grã-Bretanha.
O Papa está muito doente,
abutres torcem pelo pior,
ignorantes disseminam o ódio
e crucificam o que é amor,
A Antártica está derretendo,
UV extremo na cabeça,
agroboys tocam fogo na Amazônia,
lá fora quarenta graus,
haverá quem ame o povo ianomâmi?
... a profecia vai se cumprindo,
a sétima trombeta ressoa no planeta.
Opinião de Carlinhos de Almeida,
palmeirense sem remédio,
após mais uma crise do escrete nacional:
- É preciso acabar com essa história de
presentear com aparelhos eletrônicos
e dar mais bolas para as crianças
jogarem futebol de manhã, de tarde e de noite.
para o bem da pátria amada
e isso não custará quase nada.
Após as memoráveis partidas de ludopédio,
os melhores técnicos e técnicas se reúnem
nos bares, botecos ou biroscas
de todas as cidades do país
e se põem a analisar estratégias e resultados:
Alguém fez cera? Teve fintas ou firulas?
Aconteceu zebra? Alguém marcou contra o patrimônio?
Muita catimba ou jogo nervoso?
Gol chorado ou golaço?
Só não pode pisar na bola
e o resto é correr para o abraço.
Velhas amizades, rostos conhecidos,
lembranças antigas, músicas revisitadas,
notícias atualizadas, adeus, até breve,
retorno com passos lentos,
a estrada ainda é longa
e levo uma carga de sentimentos.
A Terra nos transporta,
mas também o levamos no corpo:
cálcio nos ossos, ferro no sangue,
desde antes de sermos modernos,
desde antes de sermos neandertais,
mais oxigênio nas células,
fósforo, zinco e sais minerais.
Bem-te-vi é passarinho à toa
que vive na roça e na cidade,
no litoral e no interior do Brasil,
que ao ver os homens loucos
a atearem fogo na mata
logo dá aviso: bem que vi!
Ao ver os idiotas a jogarem lixo nos rios,
logo grita: bem te vi!
Com a destruição dos manguezais
o passarinho se entristece mais:
Quem que viu? Quem que viu?
Bem-te-vi, Chico Mendes, Dorothy Stang...
quem que os ouviu?
Meu povo que era parceiro da alegria,
que sabia todas as danças,
tocava instrumentos musicais
e bailava com a esperança,
meu povo foi agrilhoado,
condenado a viver no submundo
e a carregar a carga do mundo.
Castigaram seu corpo
e tentaram apagar a chama da alma,
mas continua a resistência na ginga da dança
e na música com sentimento:
Viva Alcione, Gil, Sandra Sá,
Viva Elza Soares e Milton Nascimento!
Além das montanhas, meus amigos, minhas amigas,
havia planaltos com matas e rios cheios de vida,
terras boas, terras que já tinham donos
- os primeiros filhos deste país -
que viviam da generosidade da natureza
colhendo os frutos das árvores, caçando os bichos do mato,
pescando os peixes de rios e lagos.
Além das montanhas, meus amigos,
tinha gente muito valente
que sabia manejar o arco e flecha, a lança
que nada valia contra bombarda e carabina,
além das montanhas, meus amigos e amigas,
foi grande a chacina.
Mesmo que tenha milhões
em imóveis, indústrias,
ou incontável boiada;
quem não tem filhos, não tem nada.
Mesmo que seja chamado de doutor
que tenha um cargo importante
com muita prosa furada;
quem não tem poesia, não tem nada.
Mesmo que tenha fama
por muita prata e ouro
para mais de uma tonelada;
quem não tem amor, não tem nada.
Pincel, pinta, pintura,
leia-se, livro, leitura,
papel, poema, poesia,
amizade, amor, magia,
antiga, cantiga, canção,
jovem, afegã, Afeganistão.
Pincel, pinta, pintura,
leia-se, livro, leitura,
papel, poema, poesia,
amizade, amor, magia,
antiga, cantiga, canção,
jovem, afegã, Afeganistão.
Respira, inspira, esperança,
Canta, dança, cria, criança.
Tiro, bala, abala, cai,
Tomba, ferida, Malala Iúzafezai.
Pincel, pinta, pintura,
leia-se, livro, leitura,
papel, poema, poesia,
amizade, amor, magia,
antiga, cantiga, canção,
jovem, afegã, Afeganistão.
Respira, inspira, esperança,
Canta, dança, cria, criança.
Tiro, bala, abala, cai,
Tomba, ferida, Malala Iúzafezai,
mas nem a força da bala
poderia parar Malala!
Adeus, mamãe, vou pescar,
e a senhora sabe,
não dá para saber a hora de voltar,
vai que os peixes estão beliscando,
vai que o vento está soprando;
vai que encontro uma sereia,
vai que ela me desnorteia.
Peixe não tem endereço, mamãe,
e o pescador é seu vizinho,
cardume não marca encontro
e a incerteza é seu destino.
Adeus, mamãe, reze por mim,
Eu vou pescar no mar sem fim,
Sem fim, sem fim, sem fim...
Os tolos aspergiram inseticidas de avião
mataram abelhas, joaninhas e passarinhos,
o gafanhoto virou praga,
acabou a polinização
e o silêncio tomou conta da criação.
Quebre o sistema, salve o ecossistema;
Quebre o sistema, salve o ecossistema!
Os egoístas aterraram os manguezais
para construir marinas e condomínios
taparam as tocas dos guaiamús
e jogaram esgotos no mar para desgosto do caiçara,
para adoecer a tal ponto as baleias,
que, por tristeza, se suicidam nas areias.
Quebre o sistema, salve o ecossistema;
Quebre o sistema, salve o ecossistema!
E quem bota fogo na mata
é igual quem joga lixo no rio;
que é igual quem aterra e mata o mangue;
que é igual quem derrama o sangue
de bicho, estranho, irmão, irmã;
que é igual quem derrama petróleo no mar;
que é igual quem dá agrotóxico para a terra beber;
que é igual quem faz Nossa Senhora chorar.
Quebre o sistema, salve o ecossistema;
Quebre o sistema, salve o ecossistema!
No breu,
No breu da noite nublada do mar de fora, sem bússola, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão.
No breu, na noite nublada do mar de fora, sem visão do litoral, sem solução, com risco de morrer pagão, em quase desespero, rogue a Deus que se abram as nuvens para mostrar o setestrêlo.
No breu, no mar de fora, sem solução, com risco de morrer pagão, em quase desespero, peça a Deus que se abram as nuvens para mostrar o setestrêlo e achar o rumo de um porto seguro, para os braços de Senhora dos Navegantes, que dá proteção para quem foi pescar distante, distante da segurança, perto do perigo, muito longe da esperança.
No breu sem solução, com risco de morrer pagão, no breu sem visão, no breu...
De bem com a vida,
aprendi na escola caiçara
como remar a canoa,
o jeito certo de pescar,
a levar tudo numa boa,
a respeitar e amar o mar.
Toda uma herança de sabedorias
e mais a prática do dia-a-dia
na escola do pescador até aprender
a ler no céu o que vai acontecer
com o tempo que ainda não mudou,
a espiar as correntes marinhas
atrás do pescado que se ocultou
e saber que peixe mordeu a isca
e aquele que escapou.
E desde os tempos de menino,
Aprendi que a gente vive por teimar,
pois quem nasce à beira-mar
tem o destino escrito na areia
e se a onda vem e apaga tudo,
e se não der peixe na linhada,
e se vier pouco peixe no espinhel
ainda tem a rede armada
no pesqueiro do parcel.
Este mar está cheio de vida,
(mas já teve mais!)
este mar ainda é generoso
(mas já foi mais!)
Quando a gente chegava da pescaria
com uma fieira de peixes na mão,
vovó nos abençoava e
dizia:
"Quando Jesus andou no mundo
procurando seguidores,
escolheu os melhores
no meio dos pescadores."
Gosto de poemas de cantigas de passarinhos
cantadas de geração em geração
nos galhos das fruteiras carregadas
e nem precisam ser poemas
com as palavras rimadas:
Viva João-de-barro, sem-fim, saírinha,
pica-pau, tucano, sabiá, tiziu,
jacu, seriema, andorinha!
Sabia, meu bem,
que saudade é nome de passarinho,
e que tô com saudade de você também?
Um abraço sanhaço, saíra, azulão-da-serra,
coleirinha, bigodinho, periquito,
tico-tico, tiziu,
canário-da-terra!
Voa curió, carcará, urubu-rei,
irerê, quero-quero bem te ver,
bem-te-vi, bem te verei!
Sabia, meu bem,
que saudade é nome de passarinho,
e que tô com saudade de você também?